Katherine Bradford
URGENTE: Hora de ajudar o Rio Grande do Sul como puder. Assista esse vídeo para entender a gravidade da situação contada por quem está na linha de frente ajudando a fazer marmitas para as equipes de resgate. A ONG Humus faz um trabalho fantástico de resgate em casos de desastres como esses. Aqui tem informações para doação.
Hoje às 18h darei uma aula beneficente no Zoom falando sobre exposições em cartaz no momento em NYC. Para participar basta doar qualquer valor para qualquer instituição e me mandar um comprovante pelo inbox do meu Instagram para receber o link.
1) Sou muito fã da Arianna Huffington. Outro dia, numa entrevista ela disse:
Olhando para trás, vejo que desde cedo eu sabia como queria viver a minha vida — uma dança entre “fazer acontecer” e “deixar acontecer” [a dance between making it happen and letting it happen].
2) Outra entrevista fantástica que li esses dias foi com a autora, poeta e tradutora Anne Carson na Paris Review. Grifei tudo, mas compartilho trechinhos editados em tradução livre para não ocupar a newsletter inteira :)
CARSON Acho que ninguém sabe o que outra pessoa quer dizer quando fala, francamente. É mais que tradução, é como se jogar no escuro. A linguagem é muito, muito pessoal, privada. Esquisita. Provavelmente é muito mais desesperador do que isso. Mas o esforço de falar como humano é o esforço de superar essa desesperança a cada frase.
CARSON Penso [em tradução] como uma vala, uma vala entre duas estradas ou países. Sempre foi interessante para mim o estado de espírito a que chega o tradutor, quando tem duas línguas simultaneamente na tela do cérebro. E ambas palavras estão dizendo algo não exatamente equivalente e ambas continuam flutuando ali.
Alguns escritores – Emily Dickinson seria o exemplo notável – fazem uso dessa vala na sua própria língua. Então ela não está traduzindo de outro idioma. Está traduzindo a si própria. Escreve certas linhas e palavras e depois as risca e coloca outra palavra, ou escreve a terceira palavra ao lado, ou vira o papel e faz outra versão de tudo. E tudo existe junto como o poema. É um estado de espírito muito estranho ter tudo isso flutuando.
Como estudioso, quando você olha a própria página com o idioma e as variantes, e tudo flutua em sua mente, é uma experiência extraordinária. Incomunicável, penso eu, em seus aspectos mais delicados.
"Envelope poems" de Dickinson
3) E como Carson traduz grego para inglês, divido aqui também essa reflexão da Luiza Leite:
Alguém escreveu num post uma onomatopeia para mergulho — plum. Eu li plum — ameixa. Uma palavra. Dois sons e dois sentidos. Lembrei do livro Viver entre Línguas, em que Sylvia Molloy diz que no bilinguismo a pessoa é contaminada pela língua fantasma quando menos se espera. "Escolher um idioma automaticamente significa o fantasmamento do outro, mas nunca sua desaparição".
Sam Jablon: você leu time ou time?
4) E essas notas divinas de John Bergen sobre música? Também tomei a liberdade de traduzir e editar para ficar mais digestivo aqui :)
Muito do que acontece na nossa vida não tem nome, porque nosso vocabulário é muito pobre. Muitas histórias são contada em voz alta porque o contador de histórias espera que a narração possa transformar um acontecimento sem nome num acontecimento familiar ou íntimo.
Tendemos a associar intimidade com proximidade e proximidade com uma certa soma de experiências compartilhadas. No entanto, na realidade, estranhos, que nunca dirão uma única palavra um ao outro, podem partilhar uma intimidade – uma intimidade contida na troca de um olhar, num aceno de cabeça, num sorriso, num encolher de ombros.
Uma proximidade que dura minutos ou o tempo de uma música que se ouve junto. Um acordo sobre a vida. Um acordo sem cláusulas. Uma conclusão compartilhada espontaneamente entre as histórias não contadas, reunidas em torno da música.
Ernie Barnes, The Sugar Shack II, 1976
5) Quem assistiu Bluey recentemente? Gente, como eu amo esse desenho animado! Num clima meio de despedida, o penúltimo episódio dessa temporada menciona uma fábula chinesa, parte do livro clássico de filosofia Huainanzi. A história é mais ou menos assim:
Um fazendeiro e seu filho tinham um cavalo querido que ajudava a família a ganhar a vida. Um dia, o cavalo fugiu e os vizinhos exclamaram: “Seu cavalo fugiu, que azar!” O agricultor respondeu: “Talvez sim, talvez não”.
Poucos dias depois, o cavalo voltou para casa, trazendo também alguns cavalos selvagens de volta à fazenda. Os vizinhos gritaram: “Seu cavalo voltou e trouxe vários cavalos para casa com ele. Que sorte! O agricultor respondeu: “Talvez sim, talvez não”.
Mais tarde naquela semana, o filho do fazendeiro estava tentando domar um dos cavalos e ele o jogou no chão, quebrando-lhe a perna. Os vizinhos gritaram: “Seu filho quebrou a perna, que azar!” O agricultor respondeu: “Talvez sim, talvez não”.
Algumas semanas depois, soldados do exército nacional marcharam pela cidade, recrutando todos os rapazes para o exército. Não levaram o filho do fazendeiro porque ele estava com a perna quebrada. Os vizinhos gritaram: “Seu menino foi poupado, que sorte tremenda!” Ao que o agricultor respondeu: “Talvez sim, talvez não. Veremos."
Susan Rothenberg
6) Numa entrevista com Mel Robbins, o expert em felicidade Dr. Tal Ben-Shahar compartilha várias curiosidades sobre o tema. A mais chocante? Ele não sabe dizer se é feliz. A única coisa que consegue afirmar é que está mais feliz hoje do que há alguns anos. Ben-Shahar também conta quais as 5 categorias a serem levadas em consideração na hora de avaliar nossa própria felicidade.
Espiritual — levar uma vida com sentido, saboreando o presente com consciência
Físico — cuidar do corpo, tocando na conexão corpo/mente
Intelectual — envolver-se com aprendizados profundos e abertura para (novas?) experiências
Relational — cultivar uma relação construtiva com os outros
Emocional — sentir todas as emoções, buscar resiliências e positividade
7) Adorei essa reflexão da Ale Garattoni sobre a tendência do "um a um" na relação das marcas com seus clientes. “O contraponto vem da comparação entre as marcas de luxo – que desde sempre trabalham desta forma – e o boom do e-commerce e da tecnologia, que aumentaram a distância entre negócios e consumidores”.
Segundo ela, marcas como a Zegna têm focado em atendimentos individuais agendados para apresentar suas novas coleções. Mesmo marcas que não estão na categoria luxo se beneficiam investindo na proximidade com a clientela. “Entra aí o poder do treinamento de uma equipe acolhedora e eficiente, que conhece comprador e produto como a palma da mão”.
Ale conclui seu texto citando a relações públicas americana Kelly Cutrone: "você nunca é bem-sucedido demais para fazer aquela tarefa que te deu o seu sucesso".
E a Levi’s anunciou que vai abrir cada vez mais lojas, com foco em ótimo atedimento e muitas opções de produto in loco. No NYTimes, aqui.
8) Se não cuidarmos dos mortos, eles morrem de fato. Mas, se formos responsáveis pela maneira através da qual vão perseverar na existência, isso não significa de modo algum que a existência deles seja totalmente determinada por nós. A nós cabe a tarefa de oferecer-lhes “mais” existência.
Em “Um Brinde aos Mortos”, de Vinciane Despret
Ana Mendieta
9) Em entrevista a Justin Pines, Leandra Medine (ex-Man Repeller) falou sobre o ato de se vestir. No fim, escolher sua roupa também significa escolher que mensagem quer passar ao mundo sobre quem é você:
Muitas vezes falamos sobre roupas como armaduras, mas na verdade elas abrem nosso coração. A sensação de acertar uma roupa é a mesma de sentir seu coração se expandindo. Mais vulnerável e mais generoso do que vestir-se para se esconder. Quando você é capaz de refletir uma versão de si mesmo que parece verdadeira em essência, chamo isso de spiritual twin-set [conjuntinho espiritual], quando o seu eu interior corresponde ao seu eu exterior.
10) Estudei muito esse mês e acabei escutando mais música instrumental. Compartilho uma playlist de jazz com foco em piano :)
Continuo gostando da diversidade que vc posta. Muito obrigado
Achei lindo esse newsletter. Muito bom perambular por onde sua mente multi-interessada caminha. O envelope despedaçado e anotado é muito potente mmo qto ao processo aberto de escrita da Emily Dickenson. Tmb otimo seu chamado para acao no estado do RS. Brava Gi!