O aconchego dos livros (e revistas?) via @tomoo
1) Só existem 36 pinturas de Vermeer no mundo. Por isso, é uma sorte tremenda passear por Nova York, onde moram 9 delas — cinco no Metropolitan Museum e quatro na Frick Collection (fechada para reforma até o começo do ano que vem). Eu me emociono toda que vez que visito a sala dele no Met, com as cinco lado a lado. O livro do Benjamin Moser — que já citei aqui — fala dos mestres holandeses e tem um capítulo todo dedicado a ele.
Talvez nunca antes na história da arte um artista tão grande tivesse se dedicado a assuntos tão corriqueiros. É impossível imaginar Rafael pintando uma empregada na cozinha ou Ticiano, uma menina lendo uma carta. Mas nas pequenas pinturas de Vermeer, o que poderia ser ridicularizado como inútil é transformado na mais elevada arte. Não por conta do que viu, mas de como viu — ele se tornou o herói do sujeito não-heróico.
Johannes Vermeer, A Maid Asleep (ca. 1656–57). Coleção do Metropolitan Museum of Art
2) “Provavelmente a única coisa que se pode realmente aprender, a única técnica a se aprender, é a capacidade de mudar” – Philip Guston
Philip Guston, The Line, 1978.
3) Uns meses atrás me deu a louca. Resolvi que queria só usar toalhas de mão vintage, bordadas em ponto cruz, no tema “jardim”. Passei horas no site Etsy escolhendo. Não sei se por que agora estou no detox das compras — dando mais bola pro que já tenho —, mas fato é que todo dia essas toalhinhas me fazem abrir um sorriso. Que delicadeza!
Olha essa que gracinha.
4) Texto do NYTimes de 1975:
À famosa máxima de Mies van der Rohe de que menos é mais, a arte de Richard Tuttle oferece uma refutação definitiva. Pois no trabalho de Tuttle, menos é inequivocamente menos. Na verdade, é implacável e irremediavelmente menos. Estabelece novos padrões de falta e desfruta do vazio da falta. Somos tentados a dizer que, no que diz respeito à arte, menos nunca foi tão menos.
5) Numa entrevista, a brilhante Anne Carson examina Descartes:
Ele disse a famosa frase: Penso logo existo, que todo mundo sabe e aprende. Mas na verdade, a frase é Dubito, ergo cogito, ergo sum. Duvido, logo penso, logo existo – não é surpreendente? Há camisetas em todo o mundo com a frase, mas o “dubito” — a dúvida — tem má reputação. Isso é muito provocativo. Tudo começa na dúvida — que também pode significar hesitação, mas a ideia é a mesma.
PS: fui pesquisar a frase toda. Segue a íntegra: dubito, ergo sum, vel, quod idem est, cogito, ergo sum ("duvido, logo existo — ou o que dá na mesma — penso, logo existo").
6) Outro dia, vi uma piranha de cabelo muito divertida. Foi na loja Woods Grove, aqui no Brooklyn:
The Peach Fuzz Pigeon na mão da vendedora
7) Depois de 30 anos, o diretor do MoMA, Glenn Lowry, vai se aposentar. Vários sites de arte têm especulado sobre quem irá sucedê-lo. Meu voto vai para Thelma Golden — atual diretora e curadora do Studio Museum do Harlem. Além de poderosa, ela forma um dos pares mais cool (warm) do eixo moda-arte com seu marido, o designer Duro Olowu. Uma dupla para a gente ficar de olho sempre!
8) Gen-te, pára tudo. Depois da pandemia, a coisa mais legal do mundo é a normalização do casaco de moletom. Não tiro o meu do Metropolitan. Amo muito. E adorei esse que vi outro dia em homenagem a pessoas incríveis como Joan Didion, Nora Ephron, Jane Birkin, Taylor Swift, Tony Morrison, Ina Garten, Greta Gerwig, Beyoncé, Solange, Diane Keaton e James Baldwin. Vem fuçar aqui.
PS: Talvez sacando minha paixão por roupas de athleisure, o algoritmo me “mandou” esse vídeo de um moletom carimbado com o abraço de um avô. Que ideia doce! Mas só de imaginar tentar reproduzir em casa, já previ todas as catástrofes possíveis hehe. Desisti :)
9) Via Paul Weinfield:
O Tao Te Ching diz que a verdadeira grandeza vem da disposição de ser pequeno. Isso não significa diminuir sua luz. Significa focalizá-la, da mesma forma que um raio de sol focalizado através de uma lupa pode provocar um incêndio violento. Se você estiver disposto a falar menos até realmente ter algo a dizer, a compartilhar menos até se sentir verdadeiramente chamado, você começará a conhecer seu lugar genuíno neste mundo. Allen Ginsberg disse: "Para ganhar sua própria voz, esqueça de fazer com que ela seja ouvida. Torne-se um santo de sua própria província e de sua própria consciência."
PS: acabei de ouvir na minha aula de filosofia — sociedade não é sinônimo de coletivo. Vale refletir sobre a diferença :) E também, por que não?, refletir sobre a relação da fala de Weinfield com essa ideia.
10) Passei os últimos dias desempacotando caixas. Ainda não é uma mudança definitiva para a casa nova — por um tempo ficarei “acampada” num só andar da casa. Aventura das boas! Enquanto isso, a playlist foi o que ouvi enquanto organizava o novo ninho:
Sonho: frick com você. Sonho próximo, bem bem próximo a ser realizado! Outro sonho que não consegui: moleton da Joan didion :( chateada que da sold out). As toalhinhas também tenho mania hihih