Sarah Nsikak — “We Were in Love”, 2024
1) Está chegando a hora! O trabalho acima estará no nosso estande [E21] Gisela Projects na SP-Arte, que acontece entre 3-7 de abril no prédio da Bienal no Parque Ibirapuera, em São Paulo. A feira completa 20 anos e nós estamos animadíssimos com nossa segunda participação no evento :) Quem vem visitar? Preview aqui.
Para esta edição, queria que o estande fosse aconchegante como a minha casa. Queria que quem passasse lá sentisse vontade de ficar um pouquinho mais (só não vou oferecer chá e café ao público porque não temos essa infra!).
Gilda Vogt, “Begônias”, 2022, 60 x 50cm
2) Se você já pegou um elevador ou foi a um coquetel, sabe como pode ser difícil puxar aquele papinho superficial com alguém que você acabou de conhecer. Pensando nesse momento tão comum e desesperador, a revista The Atlantic tem uma sugestão óbvia e, ao mesmo tempo, surpreendente:
“Vá em frente”, escreve Gilad Edelman. “Discuta o clima”. Muitas pessoas em todo o mundo sofrem com o equívoco de que falar sobre o tempo é chato, o equivalente vocal de uma placa que declara “Sou uma pessoa desinteressante”. “O problema aqui não é que o tempo seja chato. O problema é que as pessoas não têm mais nada sobre o que conversar”, escreve Edelman. “Perversamente, o clima se torna o símbolo de um repertório limitado, quando na verdade é o assunto mais interessante disponível.”
“Queremos falar sobre o clima porque é um assunto que está em nossas mentes, e está em nossas mentes porque é importante”, continua Edelman. “Determina como nos vestimos, os planos que fazemos, o que vamos preparar para o jantar, se vamos pegar o voo. É aleatório e misterioso... Afeta as nossas emoções de forma mais poderosa do que muitas drogas. Encontrar a turma num dia ensolarado espalha alegria. Compartilhar tristezas constrói solidariedade. Isto tudo para não falar dos efeitos cada vez mais trágicas das alterações climáticas.”
“Falar sem remorso sobre o calor ou o frio ou a umidade ou a chuva ou a neve deixa as pessoas animadas. Elas sempre têm opiniões. E esta é a chave para uma boa conversa fiada: tem de ser participativa”, continua Edelman. “Falar sobre você mesmo é a maneira mais segura de ser chato. A beleza do clima é que ele é sempre coletivo. Se estou com calor e suado, você provavelmente também está.” E dado o declínio da socialização, conversar — aconteça o que acontecer — pode ser bom para nós de um modo geral, ele escreve: “Devemos fazer tudo o que pudermos para encorajar a socialização casual, incluindo derrubar barreiras artificiais do bate-papo de ‘baixo risco’. Vá em frente e fale sobre o tempo, pelo bem do país.”
Georgia O'Keeffe, “Above the Clouds I”, 1962-1963
3) Sempre tão sábio o Alan Watts:
“Não tenha medo. Você vai conseguir, apesar de você sempre achar que não vai dar certo. Isso faz parte da graça, sabe?”
No original: “Don’t be afraid. You’re going to make it, but it’s always going to feel as if you’re not. That’s the fun, you see!”
4) Por algum motivo, essa frase me lembrou outra do Pablo Neruda que eu acho uma beleza:
“Podem cortar todas as flores, mas não conseguirão parar a primavera”
No original, em espanhol: “Podrán cortar todas las flores, pero no podrán detener la primavera”
5) Adorei essa cerâmica da Eleanor Friedberger — e apesar de não fumar, achei que eu precisava desse cinzeirinho de cobra! Conhecia a Eleanor como cantora, já fui a show e até encontrei David Byrne na plateia :) Se ainda não conhece, vem ouvir Roosevelt Island, minha favorita dela :)
E essa foto linda que ela postou outro dia com a legenda: será que o sol pode virar música?
6) Faz um tempo que parei de tomar café na rua. Foram vários motivos: 1) não precisava mais levar meus filhos à escola porque eles já vão sozinhos, e com isso posso fazer tudo com calma de manhã, 2) comecei a achar cada dia mais caro o “flat white” que eu gostava de tomar — se eu quisesse tomar dois se tornava um investimento sério! —, 3) curto cada vez mais o ritual de fazer meu café bem devagarinho depois que os meninos saem de casa.
Desde então, transformei o café (Lavazza em pó) que faço em casa em 5 minutos (naquela cafeteira Bodum clássica) num momentinho mágico. Para deixar tudo mais gostoso, só uso as xícaras feitas à mão. Uma das queridinhas do momento é essa de rosas da Alice Cheng:
7) Por falar em cafeteira, um dia vou tomar coragem de adquirir uma dessas bem coloridas que vejo sempre na lojinha do MoMA. Mas aí fico com pena de abandonar minhas xícaras de cerâmica.
8) Estou amando e grifando inteiro o livro de TJ Clark sobre Cézanne — um dos artistas sobre quem mais falo quando faço visitas guiadas em museus. Essa frase fala tão bem sobre algo que tento explicar:
Everything in the painting is falling — and where it falls is where we are.
Em tradução livre: “tudo na pintura está caindo — e onde ela cai é onde estamos.
9) Já ouviu falar em animismo? Trata-se da noção de que objetos, animais, plantas e outros fenômenos possuem essência espiritual. O animismo é usado em antropologia para descrever algo que faz parte do sistema de crenças de muitos povos indígenas. A perspectiva animística é tão fundamental, mundana e diária que os povos indígenas mais ligados a essa prática nem sequer têm uma palavra que corresponda a "animismo" (ou mesmo a "religião"); o termo é uma construção antropológica.
Quando li o livro da Marie Kondo senti que até minhas meias viraram “gente” — a arrumadora profissional sugere que a gente segure cada peça de roupa e objeto da nossa casa e pergunte, “esse objeto emana alegria [spark joy]?”
10) Algumas das músicas mais perfeitas do mundo têm um quê de cafonice. Tentei reunir algumas das minhas favoritas. Começando com a melhor de todas, Vitoriosa do Ivan Lins. Quéeero sua risada mais gostóosa…!
Acordei com a leitura e agora vou fazer meu café e tomar numa xícara artesanal, te copiando. Você é minha inspiração, Gisela, obrigada por escrever 🖤☕
Que news leve, gostosa! De longe a minha favorita... até agora!
Até coloquei Ivan Lins pra tocar!