Ilustração divina de Sandra Javera — um ginkgo biloba
1) Recebi um presente mega especial da artista Francesca Wade: o livro (esgotado) The Art of Looking Sideways, de Alan Fletcher, com quem ela teve a sorte de conviver. Escolhi algumas imagens para compartilhar aqui, mas bom mesmo é folhear a “bíblia do design”, cheia de pérolas — como essas frases:
Stendhal: “Não sinto que tenho sabedoria suficiente ainda para amar o que é feio”
Diana Vreeland: “Cor-de-rosa é o azul marinho da Índia”
Alan Fletcher: “Pensar é desenhar na cabeça”
Joseph Joubert” “A música tem 7 letras, a escrita tem 26 notas”
Ludwig Wittgenstein: “Se um leão pudesse falar, nós não o entenderíamos”
Santayana: “Sensações são sonhos rápidos”
2) Outras marcas deveriam ficar bem espertas no que faz a Patagonia — o programa Worn Wear troca roupas usadas por dinheiro e revende roupas usadas depois de reformá-las. Não é novidade, mas se torna cada vez mais fundamental e me dá esperança. 85% das roupas que compramos terminam em lixões — cabe a cada um de nós pensar em adquirir roupas duráveis e reciclar o que não nos serve mais.
3) Vocês já ouviram falar de Diane Simpson? A artista, nascida perto de Chicago em 1935, cria esculturas inspiradas em saias de samurais, golas elizabethianas e outros uniformes estruturados. Conheci seu trabalho numa Bienal do Whitney Museum e, desde então, fiquei fascinada. Uma mistura de origami, moda e arquitetura que resulta em peças que ficam marcadas na nossa retina.
4) Não consigo correr nem até a esquina. Sou da turma da caminhada. Dito isso, fiquei obcecada com um documentário que assisti — Barkley Marathons —, sobre a ultramaratona mais difícil do planeta. Por conta do filme, entrei num rabbit hole do mundo dos corredores malucos que passam dias sem dormir, enquanto correm até 4,345 km. Se quiserem entrar nessa viagem, vale seguir o Jamil Coury e ouvir ele contando sobre suas experiências. No fim, mais que corrida, trata-se de disciplina, prática e dedicação. Sem contar nos cenários de algumas das corridas.
5) Estamos na era do sneaker, né? Eu, que trabalho andando, não consigo mais conceber a vida sobre sapatos desconfortáveis. Um dos mais cool avistados nas ruas de NYC esse mês foi o Feiyue:
6) E como falei de ultramaratonas e desse tênis, lembrei de uma frase — traduzida livremente — do poeta Devin Kelly: “correr é uma dança impaciente com a paciência.”
7) Conversei com minha amiga querida, a artista Sandra Javera, sobre suas andanças mais recentes:
—Qual o papel da paisagem nas suas memórias de cada uma das cidades em que viveu (São Paulo, Nova York, Huesca, Berlim)?
A paisagem de Nova York foi uma espécie de companhia constante para mim. Sempre gostei de pensar enquanto caminhava observando as árvores, as plantinhas dos canteiros, o céu. Uma das minhas memórias mais presentes é o céu super azul com as folhinhas de ginkgo amarelas no outono.
Em Huesca, eu morava a 5 minutos a pé dos campos de trigo, onde terminava a cidade e começava a zona rural. Foi interessante perceber o quanto o meu olho ganhou espaço, horizonte; nesse contexto do campo. Foi muito lindo conviver com uma paisagem tão aberta. A vegetação bem mais seca, uma beleza nova.Quando penso em SP, me vêm à cabeça mais o interior dos lugares — as refeições, os encontros. Minha atenção fica nas pessoas porque quase nunca fico sozinha lá. Mas eu sempre me surpreendo demais com a paisagem da cidade, com a escala das plantas, a variedade de pássaros.
—Qual sua manobra para matar as saudades de algum lugar? Se é que existe alguma… :)
Tô tentando descobrir. Depois que conversamos, me deu saudades de NY. Fiquei horas vendo fotos — coisa que evito fazer. Aí, decidi fazer um bordado com o ginkgo. Intuo que costurar é uma atividade que conversa com a metabolização da saudade.
—Você acabou de chegar a Berlim. Qual sua primeira impressão da cidade?Ainda estou estranhando. Fantasio que quando eu aprender a língua, vou também entender melhor o lugar. São avenidas imensas, monumentais e os bairros parecem cidades pequenas. É uma cidade imensa, plana e silenciosa. Estou gostando muito.
—Depois de mudar tanto de cidade, quel lição fica?
Que o que interessa é cultivar os afetos, os encontros. Isso é que a gente vai levando de um lugar para o outro.
—Se tivesse um jardim, que árvore gostaria de plantar nele? E por que?Hoje, um ginkgo — aqui em Berlim. Porque cada folha quando cai é um presentinho (e o marca páginas mais lindo!). É fascinante que ela esteja aqui na terra desde os tempos jurássicos.
8) Outro dia, meu filho me perguntou o que era um haiku. Tive o prazer de apresentá-lo a Basho — traduzido aqui com destreza por Cecilia Meireles (1974):
Velho tanque.
Uma rã mergulha.
Barulho da água.
9) Poema que inspirou esse presente de João Donato e Caetano Veloso para nós:
A Rã
Coro de cor, sombra de som de cor, de mal me quer
De mal me quer, de bem, de bem me diz
De me dizendo assim: serei feliz
Serei feliz de flor, de flor em flor
De samba em samba em som, de vai e vem
De verde, verde ver pé de capim
Bico de pena, pio de bem-te-vi
Amanhecendo sim perto de mim
Perto da claridade da manhã
A grama, a lama, tudo é minha irmã
A rama, o sapo, o salto de uma rã
10) Hora da playlist!
Sou da turma da caminhada com a Gi. ❤️🔥
Eu só quero viver num mundo onde Sandra borda ginkos... que saudades!
Ginko biloba eh a sua cara! Tô amando as referências e tudo! Tá demais