Peggy Guggenheim com cabeceira feita por Alexander Calder
1) Fazia tempo que eu não via uma exposição tão lotada! E dá para entender por que: Harlem Renaissance and Transatlantic Modernism, no Metropolitan Museum, é uma dessas mostras que vão entrar para a história. Trata de uma cena que aconteceu ali pertinho do museu, no Harlem. Através de 160 pinturas, esculturas, fotografias, filmes e memorabília, a curadoria explora a forma que os artistas negros retrataram a vida cotidiana moderna nas décadas de 1920 e 40 em Nova York — época da Grande Migração, milhões de afro-americanos começaram a se afastar do sul rural segregado.
Entre os artistas apresentados estão Charles Alston, Aaron Douglas, Meta Warrick Fuller, Archibald Motley, Winold Reiss, Augusta Savage, James Van Der Zee, Laura Wheeler Waring e meu favorito de todos: William H. Johnson. Fica em cartaz até 28/7.
2) “Sigo” vários podcasts e, às vezes, vou ouvindo coisas sem nem entender como fui parar lá! Outro dia, escutei um do Radiolab chamado “Cheating Death” (tradução livre: “enganando a morte”). A hostess do episódio conversa com vários especialistas para tentar descobrir se há como lutar contra a morte — viver mais, se manter jovem.
A pesquisa cai num lugar filosófico. Ao examinar uma água-viva que se regenera, surge a pergunta: “mas se ela voltou a ser um bebê, ela não se lembra que antes foi adulta. Com esse rejuvenescimento, ela perde também a subjetividade de sua história. Se não sabe que já foi velha, qual o ponto de voltar a ser jovem?”. No fim, fica claro que a morte é parte fundamental da motivação de estar vivo. Temos pouco tempo por aqui. Vamos aproveitar? Para escutar a íntegra, clique aqui.
Leonora Carrington And Then We Saw the Daughter of the Minotaur, 1953
3) Adorei a nova linha da “Uniqlo : C”. Trata-se de uma parceria da marca com a designer Clare Waight Keller. Em 2019, a inglesa foi eleita uma das pessoas mais influentes do mundo pela revista TIME. Isso foi logo depois de ela desenhar o vestido de noiva da Meghan Markle. Waight Keller começou sua carreira na Calvin Klein, passou pela Ralph Lauren, depois Gucci, Pringle, Chloé e, até 2020, esteve à frente da Givenchy — onde entrou no lugar de Riccardo Tisci. No ano passado, lançou sua primeira linha para Uniqlo. Achei muito cool ;) Coleção completa aqui.
Clare Waight Keller e sua nova linha “Uniqlo : C”
Meghan Markle e seu vestido desenhado por Clare Waight Keller
4) Muita gente já deve conhecer o podcast Elefantes na Neblina. Tenho escutado com frequência e adoro — apesar de sentir MUITA FALTA de uma voz feminina! Deviam convidar mais mulheres para participar :) Mas… se nunca ouviu, fica a dica. Recomendo o episódio recente chamado Sambudismo, uma reflexão sobre espiritualidade e civilidade em diferentes culturas.
Elephants Fighting, de Khurshid Banu
5) Dave Hickey foi um crítico de arte americano importante. Seu livro Air Guitar tem textos ótimos. Concordo tanto com esse trecho abaixo, olhar é aprender! E parar em frente a um Paul Cézanne é uma aula sobre como olhar para uma pintura!
Em tradução livre com micro cortes/edições:
Uma tarde na National Gallery, parei na frente de um Cézanne e ele começou a me ensinar. "Agora, observe a dinâmica da imagem e da pintura, da forma e da tinta. E não seja insensível ao dispositivo que redime o peso inferior da imagem. E não se esqueça," (balançando o dedo) "aqui está o plano pictórico. Bem aqui! Observe agora que insisto em sua planaridade, como insisto no fato de esse plano ser pintado. Não estou tentando enganar você como o libertino Fragonard, vou lhe mostrar como ver uma pintura. Para o seu próprio bem."
6) Trecho de Pico Iyer, em tradução livre:
Dias, às vezes semanas, de silêncio me deram uma amostra do que está do outro lado de nossos pensamentos. Quem nos tornamos - deixamos de nos tornar - quando deixamos todas as ideias e teorias para trás. Ali eu folheava muitas vezes as páginas de Thomas Merton, mas elas pareciam pertencer à cacofonia abaixo da quietude; a grama dourada dos pampas à minha frente, as colinas secas no além, as nuvens felpudas subindo pela encosta — não o que eu pensava sobre elas — eram a verdade.
No original:
Days, sometimes weeks, in the silence had given me a taste of what lies on the far side of our thoughts. Who we become — cease to become — when we put all ideas and theories behind us. I went often through pages of Thomas Merton there, but they seemed to belong to the cacophony below the stillness; the golden pampas grass in front of me, the dry hills beyond, the fleecy clouds stealing up the hillside — not what I thought about them — were the truth.
Paul Cézanne, Mont Sainte-Victoire seen from Bellevue, 1886
7) Entrevista de Oprah Winfrey com Dr. Roland Griffiths. “Estamos todos interconectados. Temos de ser gratos pelo milagre que é termos a consciência de sermos conscientes!”
8) Amei esse trecho dos Fragmentos de um Discurso Amoroso, do Roland Barthes, via Hans Herzog.
Um mandarim se apaixonou por uma cortesã. “Eu serei sua”, ela disse a ele, “quando você tiver passado cem noites esperando por mim, sentado em um banquinho, no meu jardim, embaixo da minha janela.” Mas na nonagésima nona noite, o mandarim se levantou, colocou o banquinho debaixo do braço e foi embora.”
Espera: tumulto de ansiedade provocado pela espera do ser amado. “Estou apaixonado? – Sim, já que estou esperando. O outro nunca espera”. Às vezes gostaria de fazer o papel de quem não espera; procuro me ocupar em outro lugar, chegar atrasado; mas sempre perco nesse jogo: faça o que fizer, fico ali, sem nada para fazer, pontual, até adiantado.
A identidade fatal do amante é precisamente: sou eu quem espera. O ser que estou esperando não é real. Como o seio materno para o bebê, eu o crio e recrio continuamente, a partir da minha capacidade de amar, a partir da minha necessidade dele (…). E se o outro não vem, eu alucino o outro: esperar é um delírio.
O Ato II é o ato de raiva; Dirijo censuras violentas ao ausente. (…) No Ato III, alcanço (obtenho?) a ansiedade em estado puro: a ansiedade do abandono; acabo de passar num segundo da ausência para a morte; o outro está como morto: explosão de dor: estou internamente sem cor.
(…) A ansiedade da espera não é continuamente violenta; tem seus momentos opacos; estou esperando, e tudo em torno da minha espera está impregnado de irrealidade: neste café, olho para os outros que entram, converso, brinco, leio com calma: eles não estão esperando. Fazer alguém esperar: prerrogativa constante de todo poder, ‘antigo passatempo da humanidade’.”
Louise Bourgeois with Tracey Emin Waiting for You, no. 15 of 16, from the series, Do Not Abandon Me 2009-2010
9) Sou vidrada em conforto. Trabalho andando, né? E desde que comprei meu New Balance 327, não consegui muito usar outros sapatos. E já adquiri o mesmo modelo em outras cores (!!!). Acho que classifica como vicio… :). Comprei de um site que a princípio parecia estranho, mas chegou tudo certinho. Ufa!
10) Como estou entrando no clima da Índia — vou pra lá amanhnã! —, fiz uma playlist já em modo ommmm…
Estou obcecada pela cabeceira! Eu não conhecia de perto o trabalho do Calder, até ir a uma exposição bem abrangente dele na Fundação Serralves, no Porto, que segue em cartaz. Também adorei a nova coleção da Uniqlo, principalmente porque em geral tenho problemas para comprar roupas de primavera por conta das cores, que não me agradam muito. Obrigada por outra ótima edição e boa viagem à Índia!
Esta edição me lembrou por que uma boa parte de mim dá graças a Deus de não termos Uniqlo e tantas opções de New Balance 327 (AMO!) no Brasil! 😅💸