Pintura de Geoffroy Pithon
1) Todo mundo quer ter memória boa, né? É aflitivo esquecer o nome daquele filme que você viu ontem ou até algo mais sério como onde guardou seu passaporte… Então, anotem aí as sugestões que um neurologista deu ao NYTimes:
- Preste mais atenção: muitos dos lapsos são, na verdade, problemas de atenção. “A desatenção é a maior causa de dificuldades de memória”, diz o Dr. Restak. “Isso significa que você não codificou a informação corretamente.”
- Crie desafios diários de memória: Tente, por exemplo, memorizar a lista de compras antes de ir ao supermercado.
- Jogue: bridge e xadrez são ótimos, mas mesmo jogos mais simples já ajudam.
- Leia ficção: Por dificuldade de lembrar a trama de um livro, muita gente acaba optando por apenas ler não-ficção.
- Cuidado com a tecnologia: guardar tudo no telefone pode destruir sua habilidade mental. Tente focar e se concentrar sem contar apenas com a máquina fotográfica como extensão do seu cérebro.
Dory manda beijos!
2) Gostei bastante da série Alexander: The Making of a God, na Netflix, sobre Alexandre, O Grande. E uma informação me pegou — em 343 AC, aos 13 anos, Alexandre teve ‘aulas particulares’ com Aristóteles! Já pensou? Dizem que foi durante esse período que ele adquiriu fundamento teórico para, depois, conquistar o mundo.
3) Impactada pelo suíngue de Donald Glover, aka Childish Gambino. Quero ser amiga dele.
3 1/2) Criei o item 3 e meio porque ontem, quando essa newsletter já estava pronta, reli trechos de The Year of Magical Thinking, de Joan Didion. Tem uma parte, logo no começo, em que ela reflete sobre esses momentos da nossa vida que criam aquele efeito de “antes e depois”. Em tradução livre:
Essa foi minha tentativa de dar sentido à fase que veio em seguida, semanas e depois meses que acabaram com qualquer ideia fixa que eu tivesse sobre morte, doença, sobre probabilidade e sorte, sobre ter sorte e azar, sobre casamento e filhos e memória, sobre luto, sobre a maneira como as pessoas lidam — ou não — com o fato de que a vida acaba, sobre como é rasa a sanidade, sobre a própria vida.
Joan Didion por Henry Clarke
4) Tenho uma amiga que está fazendo um documentário sobre as botas de caubói de Jae — um amante da cultura country que tirou a própria vida. A história é a seguinte:
Jae era um dançarino de country incrível e adorava botas de caubói. Em 2016, Jae se suicidou e deixou seus colegas e familiares com muita saudade. Em seu funeral, os amigos estavam quase todos usando botas de caubói.
Foi aí que a família decidiu criar uma fundação cujo objetivo é aumentar a conscientização sobre a saúde mental e a prevenção do suicídio — além de dar apoio a famílias em luto.
Para cada par de botas adquirido na ONG, a sugestão é que comecem também uma conversa sobre esse tema que costuma ser tão tabu. “Quando você veste essas botas, significa que você está disposto a puxar esse assunto difícil”, diz o site da fundação. Se alguém elogiar, ou perguntar sobre suas botas, você pode também já contar a história de Jae ou de outra pessoa querida que tenha tirado a própria vida.
Mais de 8500 botas — e histórias — já foram compartilhadas até agora.
5) Poema perfeito de Affonso Romano de Sant’Anna:
AMOR VEGETAL
Não creio que as árvores fiquem em pé, em solidão, durante a noite. Elas se amam. E entre as ramagens e raízes se entreabrem em copas em carícias extensivas.
Quando amanhece, não é o cantar de pássaros que pousa em meu ouvidos, mas o que restou na aurora de seus agrestes gemidos.
“Birch Forest”, 1903 — Gustav Klimt
6) E essa fantasia fantástica de Mardi Gras?Está no livro de Jason Gardner, “We The Spirits”, via WSJ.
7) Para rir, chorar, se informar e se emocionar — o livro Letters of Note reúne cartas históricas que, segundo o editor, merecem ser lidas por mais gente além do próprio destinatário. Entre minhas favoritas, está a de Jim Berger — um menino de 12 anos que pede ao arquiteto Frank Lloyd Wright para que projete a casa de seu cachorro. FLW responde à carta e a casinha de seu cão-modernista é executada! Quem tem caneta, vai a Roma ;)
8) Outro dia, postei uma foto de uma gaveta que arrumei aqui em casa. Percebi que não consigo jogar fora fitas listradas! Minha amiga, psicanalista e escritora, Helena Cunha respondeu à imagem com esse poema divino que ela escreveu para sua amada mãe, falecida no ano passado:
Nós e laços
Você tinha essa mania que me irritava.
Quando desembrulhava presente
pedia que eu guardasse a fita de cetim.
Eu achava que era mesquinhez sua.
Você enrolava a fita, com todo cuidado.
Enfiava uma agulha para que ficasse redondinha.Quando abri sua caixa de costuras, círculos de fitinhas coloridas olhavam para mim.
Parecia um arco íris de alianças.
Ou aqueles doces feitos de várias cores compridos que vendem em tenda de festa junina.
Eu sorri.
Me achei implicante.
E te achei linda e generosa.Percebi que você deixava um pedacinho daquilo que tinha ganhado, para alguém.
Porque você transformava fitas que iam para o lixo em presentes para aniversários futuros.
Hoje eu enrolei a fita do panetone, pensando no natal ou numa festa de criança que pode chegar a qualquer momento e eu precisar enfeitar o embrulho.
Coloquei-a enrolada numa caixinha bonita.
Um círculo perfeito, mas eu não tinha agulha para deixar firme, como você fazia.
Ainda assim eu gostei do nosso gesto.
Seu laço está preso em mim.
Um nó de marinheiro que o luto não rouba, costurado com a agulha da memória.
9) E esse figura que comprou ingressos para assistir jogos de futebol americano sempre que o assento dizia “vista obstruída”. Amo a falta do que fazer desse povo na internet. Juro que amo!
10) A playlist de hoje é um mix do que tenho escutado, ainda no inverno do hemisfério norte, depois de ter sobrevivido ao FOMO carnavalesco :)
Tava cheia de comentários sobre os tópicos e ainda emocionada com as fitas, mas... perdi tudo nas fotos da visão obstruída! 😅😂
Amor selvagem é maravilhoso! Me lembrou o documentário Fungos Fantásticos