Cadeira de cerâmica, “Checkered Chair”, 1982, de Mary Heilmann
1) Gertrude Stein está me perseguindo. Tem aparecido em tudo que leio :) Seu famoso verso “Rose is a rose is a rose is a rose [Rosa é uma rosa é uma rosa é uma rosa]”, em especial. Poema na íntegra aqui.
No livro de Rebecca Solnit Orwell’s Roses, ela diz:
“Rosas significam tudo, o que faz com que ela elas se aproximem de não significar nada. Foram usadas por filósofos medievais como exemplo de “exploração universal” e pela modernista Gertrude Stein, “Rose is a rose is a rose”.
Édouard Manet Two Roses, c. 1882
Já no livro Centering, de M. C. Richards, o verso de Stein apareceu assim:
Gertrude Stein levou a América em direção a uma única palavra “Arthur uma gramática”. A gloriosa ressonância da linguagem: o que escutamos em nosso ouvido interno ressoa o ser que foi nomeado. Como ela disse, fazer amor é falar um nome de novo e de novo; nomes carregam a gramática do amor: a rose is a rose is a rose. Não é uma afirmação, é uma presença.
Que perfeita essa última frase! Não só a rosa é o que é, mas ao repetir seu nome, a linguagem nos leva de volta para sua presença. Podemos usar a linguagem, mas nada como a rosa em si. Conversando com um amigo, falamos dessa repetição — quase um mantra ou também um andaime — que cerca a rosa sem nunca ser a própria flor.
Isa Genzken, 'Rose III', 2016
Por falar nesses ecos, sempre gosto de lembrar nos meus tours de arte que répétition em francês é ensaio. Repetindo, a gente aprende. Ao mesmo tempo nunca, de fato, repetimos nada. Alô, Heráclito! — “Ninguém pode entrar duas vezes no mesmo rio, pois quando nele se entra novamente, não se encontra as mesmas águas, e o próprio ser já se modificou”.
2) E mais: a própria ideia de um mantra é repetir para transcender a atividade mental. Dizer várias vezes o nome daquilo que você não entende, pode ser um jeito de entender. Em sânscrito, a palavra mantra vem de manas, mente; e tra, ferramentas. Um som, palavra ou sequência cuja repetição pode ajudar a acalmar a mente — elemento-chave da meditação no yoga. O processo de repetir um mantra mentalmente é chamado de japa, que significa “murmurar”.
3) No livro que estou lendo sobre jazz, tem um trecho todo dedicado à repetição. (Eu sei que esse assunto já está ficando repetitivo!). Segundo o autor Geoff Dyer:
“Jazz envolve simples repetições (imitações sem fim de Coltrane); explorações de possibilidades daquilo que foi tocado antes. E, nos melhores casos, uma expansão dessas possibilidades”.
Repetir, então, pode ser também expandir, explorar. Rosa é uma rosa é uma rosa…
Foto de Sony Rollins por Martin Scholler
4) Amo muito essa maratona pré-Oscar e tenho feito minha lição de casa (sei que ninguém perguntou haha). Nos últimos dias, assisti Past Lives, Anatomy of a Fall, The Holdovers e Society of Snow. Gostei de todos! Continuam na fila Poor Things, All of us Strangers, Priscilla (esse estou com preguiça, confesso), sem contar os seriados, tipo Beef (que o Oscar não premia). Hoje vou tentar enfrentar o Killers of the Flower Moon!
Fui ver Past Lives achando que era sobre amor, e saí achando que é um filme também sobre imigração (a eterna pergunta “como poderia ter sido minha vida se eu não tivesse saído do meu país de origem?”). Ao assistir Anatomy of a Fall achei que fosse ser sobre suicídio/assassinato, saí achando que é principalmente sobre memórias, ficção e interpretações. Sociedade da Neve exige estômago, mas emociona!
The Holdovers, achei doce. E adorei essa frase do personagem do Paul Giamatti, que faz papel de um professor de história:
Se quiser entender o presente ou a si mesmo, você deve começar pelo passado. A história não é simplesmente um estudo do passado, é uma explicação do presente.
Na entrevista que deu à rádio NPR, Giamatti contou a seguinte anedota ao falar sobre o fato de seu personagem ter cheiro de peixe:
“Tem um ditado em teatro, especialmente quando você faz Shakespeare, que diz que se você está interpretando o rei, não precisa interpretar o rei. Todos ao seu redor é que têm que acreditar que você é o rei. E assim não preciso atuar como quem está com cheiro de peixe. Todos ao meu redor é que precisam acreditar que estou com cheiro de peixe. Ele próprio já está acostumado a cheirar a peixe, sabe?
5) Em Anatomy of a Fall, me lembrei da morte controversa de Ana Mendieta. A quem interessar possa, tem um podcast sobre o tema, ou a própria página no Wikipedia já cobre a polêmica.
Ana Mendieta, “Silueta de Arena,” 1978
6) Sonhar não custa. Saiu a lista anual do NYTimes com os 52 destinos de viagem sugeridos para 2024. Nossa capital está entre os escolhidos. Um gostinho abaixo:
7) Por falar em sonhos de viagem, andei babando nos Stories de uma amiga que está viajando pelo Japão. As fotos da Villa Katsura são de cair o queixo. Quero ir…!
8) Minha ex-terapeuta, Galit Atlas, escreveu um best seller (!) e outro dia postou no Instagram uma frase do livro:
“Trauma é transmitido pelas nossas mentes e pelos nossos corpos, mas isso também vale para resiliência e cura.”
Ufa, né?
9) E essa luminária ‘Pinocchio’ (vintage, rara e cara) do Pietro Cascella de 1972? Parece um cartoon.
10) Outro dia assisti a uma live do Zé Ibarra e fui ao delírio! Aqueceu meu inverno. A playlist de hoje é o repertório dele naquela noite. Com atenção especial a Jeff Buckley, de quem sou fã <3
🌹🌹🌹 é uma presença. Amei as reflexões.
Bora pro Japão..... quero
Ir esse ano!
E essa luminária.....
Beef é bem bom.... terminei ontem!