Cerâmica de Yuko Kan
1) Quando o Spotify fez aquela listinha de fim de ano com a anatomia do que a gente escutou em 2023, não deu outra: Chet Baker manda no meu coração. O nativo de Oklahoma conseguiu deixar pra trás até meu outro grande amor, Caetano Veloso.
Estou lendo um livro sobre jazz e me derreti com esses trechos que o descrevem:
Chet se debruçava sobre seu trompete como um cientista que olha pelo microscópio. (…) Quando ela escutou seus discos pela primeira vez, seu jeito de tocar pareceu tão frágil e delicado, quase feminino, tão modesto, que os solos dele acabavam antes mesmo de ela notar que eles haviam começado.
Foi só depois de se tornarem amantes que ela sacou o que havia de especial. A princípio, (…) ela achou que ele estava tocando para ela. Depois, notou que ele não tocava para ninguém, apenas para si próprio. (…) Tudo que tocava soava como uma pergunta (…). E então, ela notou que estava errada: Chet não tocava nem para ela, nem para ele próprio: ele simplesmente tocava.
Chet não colocava nada de si na música, E isso é o que criava o pathos. A música tocada se sentia abandonada por ele. Para cada nota que saía de seu trompete, ele dava tchau. (…) Cada nota tentava ficar com ele um pouco mais. A música em si chorava, ‘please, please, please’.
Chet Baker, 1953
PS: Uma dica para escutar jazz — o número de vezes que você deve ouvir cada faixa deve ser equivalente ao número de instrumentos tocados naquela canção. Em cada ‘escutada’, você foca num instrumento.
PS 2: E o neto de Bill Evans, Jaden, de 15 anos, tocando piano? Escute aqui.
2) Sou apaixonada por dança e ontem caí num rabbit hole que me levou a Polly Bennett — a coreógrafa conhecida por preparar atores em várias das séries e filmes do momento. Foi ela quem treinou Barry Keoghan na cena final de Saltburn, fez a coreografia do bailinho que a rainha frequenta na última temporada de The Crown, e também ensinou os atores em Elvis e Bohemian Rhapsody a requebrar.
Depois de vasculhar o Instagram dela, fiquei querendo uma pista bem animada para dançar até cair!
Foto de Phil Stern — Rita Moreno em ensaio de West Side Story, 1961
3) Por falar em filmes e séries que temos assistido, adoro acompanhar a premiação do Globo de Ouro (e os comentários geniais de Gabb sobre o tapete vermelho). Meu momento favorito desta edição foi a dancinha maluca que Will Ferrell e Kristen Wiig fizeram antes de anunciar o Melhor Ator.
Fiquei louca para assistir:
Beef
Killers of the Flower Moon (primeira indígena a receber Melhor Atriz)
Past Lives (vou assistir hoje!)
Anatomy of a Fall
Poor Things
The Holdovers
Já viram algum desses? Comentem aqui quais vocês acham que valem a pena.
4) Recebi uma newsletter do NYTimes outro dia que dizia:
Se você acorda confuso e em pânico ao som de um despertador tocando no escuro, pode começar a deixar as manhãs mais agradáveis com um despertador do “nascer do sol”, também chamado de “luz de despertar”.
Confesso que achei interessante (à venda na Amazon, aqui), apesar de implicar com o tamanho do trambolho. Já estou muito acostumada a acordar com meu alarme, mas pensei que pode ser legal para meus filhos adolescentes. O que acharam?
5) Adorei essa entrevista no 92Y em que o autor David Brooks fala da corrente subterrânea das conversas. Independente do assunto ou do conteúdo de um bate-papo, existe a conversa real, que é o que está por trás de tudo que é dito. Qual o nível de respeito e curiosidade que sentimos por aquele interlocutor? Segundo o autor, é a esse aspecto da conversa — que ele chama de underflow — que devemos nos atentar. “Podemos até discordar do outro, mas se nos atentarmos a isso, a relação será boa”, garante.
Tudo isso e mais está no novo livro dele "How to Know a Person: The Art of Seeing Others Deeply and Being Deeply Seen".
Sua esperança é que "as pessoas aprendam a se enxergar. [Se] há uma habilidade no centro de qualquer família, comunidade, organização ou país saudável, é a capacidade de ver uns aos outros e de fazer com que cada um se sinta visto, ouvido e compreendido.”
Pierre Bonnard “Before Dinner”, 1924
6) Todo mundo já assistiu ao Roda Viva com Fernanda Torres? Que mulher interessante! Ela me deixou com vontade de ler Flaubert e outros “tijolos” da literatura do séculos 19.
7) Para tentar converter meus filhos a amarem livros como eu, outro dia resolvi ler em voz alta um conto do livro Ficciones, de Jorge Luis Borges. Tem uns trechos fantásticos no Funes, El Memorioso, o rapaz que memorizava absolutamente tu-do:
Havia aprendido sem esforço o inglês, o francês, o português, o latim. Suspeito, contudo, que não era muito capaz de pensar. Pensar é esquecer diferenças, é generalizar, abstrair. No mundo abarrotado de Funes não havia senão detalhes, quase limitantes.
8) Depois de passarmos por uma pandemia que exigiu distanciamento social, não há dúvidas de que perdemos um pouco do nosso traquejo de como se comportar diante de muita gente. A esse fenômeno, dá-se o nome de Atrofia Social. Adorei ouvir Esther Perel falando sobre esse e outros temas nesse podcast aqui.
Katherine Bernhardt, “Sunset”, 2016
9) A última coluna de Ronaldo Lemos na Folha de S. Paulo fala do novo método de votação do BBB e como novos jeitos de eleger poderiam ser usados em várias outras situações. Já ouviram falar do voto quadrático, por exemplo? Lemos explica abaixo:
“(…) Métodos de votação influenciam tudo. Chega a ser chocante que nas democracias do século 21 nosso jeito de votar continue sendo similar ao de Atenas no século 6 antes de Cristo: uma pessoa, um voto. Com a decisão sendo tomada pela maioria. Um dos efeitos da aplicação da regra da maioria é seu incentivo à polarização. Ela ignora nuances e reduz os incentivos de se encontrar pontos em comum.
(…) A ideia [do voto quadrático] é a seguinte. Em vez de apenas um, cada pessoa recebe um conjunto de votos (por exemplo, 100). As pessoas podem então distribuir seus votos entre diversas opções, conforme suas preferências. Pode atribuir 40 para um candidato, 20 para outro etc. Se há uma preferência forte por um único candidato, pode colocar todos os votos nele. Mas nesse caso, seus votos sofrem um desconto "quadrático". Em vez de valerem 100, passam a valer 10 nesses casos de concentração. Já se a pessoa dividir seus votos entre várias alternativas, o desconto é menor e seu poder decisório fica mais próximo dos 100.
Esse é um modelo anti-polarização. A decisão final torna-se um balanço das preferências de todos os eleitores, que são incentivados a distribuir seus votos. (…) A Câmara de Vereadores de Gramado, por exemplo, já usou. Poderia ser usado até no Big Brother. Ainda que construir o futuro da democracia não seja exatamente a preocupação do programa.
Jacob Lawrence, 1959
10) Duas versões de cada música — não necessariamente original e cover. Resolvi fazer essa playlist porque amo a música Like Someone in Love — tanto a versão do Chet Baker, quanto a da Björk. Uma melhor que a outra <3
A dancinha foi o melhor do Globo de Ouro, achei o apresentador, péssimo.
Beef - quero assistir!
Killers of the Flower Moon (primeira indígena a receber Melhor Atriz) achei chato, o melhor são as roupas das índias, dai vem toda inspiração do Ralph Lauren. kkk
Past Lives (vou assistir hoje!) - melhor filme que assisti nos últimos tempos.
Anatomy of a Fall - ainda não chegou
Poor Things - louca para assistir, adoro a Emma Stone.
The Holdovers - gostei...
Anatomy of a Fall is a must see! My favorite film of the year.
I will add Zone if Interest, a film about the “normal life” of the family of the Auschwitz’s camp . In this film you only see the family house ( a wall separating them from the camp) the kids going to school, the flower garden, swimming pool, and you just “hear” the sounds of the camp. A beautiful though provoking film that remind me of Anna Arendt: “ the banality of evil”. And last but not least, Beef is hilarious and a perfect series for the coach.