Maggie Smith, aos 88 anos, na campanha da Loewe — a foto da semana! Por mais e mais musas idosas. Cada ruga contando uma história e o sorriso safado de quem já aprontou muito nessa vida!
1) Nosso saudoso Peter Schjeldahl — um dos maiores críticos de arte norte-americanos — em uma entrevista fantástica falando sobre arte. Essa fala dele sobre a experiência de ir ao museu (no caso, a Frick Collection, em NYC) me tocou muito diretamente:
[minuto 6:40] São objetos reais feitos de matéria, pendurados na parede, sob luz favorável. E é tão profundamente emocionante. É como retornar ao seu corpo – não é algo que está apenas nos seus olhos ou na sua cabeça. Não são apenas informações. Não é apenas conhecimento. Trata-se de uma experiência que envolve seu coração, seus instintos (suas entranhas) e seu sexo.
Em inglês: They are actual objects made of stuff, hanging on the wall, in favorable light. And it is just so profoundly exciting. It is like being returned to your body — it isn’t just in your eyes or your head. It isn’t just information. It isnt just knowledge. Its experience, that involves your heart, and your gut, and your sex.
2) Por falar nisso, passei muito mal na exposição sobre Manet e Degas que está em cartaz no Metropolitan Museum. Eu não sabia que a Olympia de Manet estaria lá e, juro, senti no corpo o impacto daquela pintura! Fui absorvida por ela — não só pelo olhar da Olympia, pelo lacinho na fina fita preta de veludo (?) em seu pescoço e pela flor sugestiva atrás de sua orelha, mas pelas descobertas que podemos fazer também na lateral direita da tela. A senhora, quase invisível, misturada ao fundo escuro da pintura, que segura um buquê de flores (também sugestivo, talvez revelando o que Olympia esconde com sua mão esquerda). O gato preto pouco óbvio, quase camuflado com a parede, apesar de presente e alerta. Cada detalhe — o tamanco que caiu do pé, o jeito que o lençol se prende ao colchão. Tudo tão delicado, sexy, suspenso e intenso. Sério. Preciso voltar lá mais mil vezes!
3) Hoje volto aos meus tours pelas galerias do Chelsea. Adorei ver ao vivo esse mural do Roy Lichtenstein (feito em 1989) em homenagem a uma pintura do Oskar Schlemmer (feita em 1932) inspirada pela Bauhaus:
4) E essa fala da Bela Gil sobre liberdade?
Somos condicionados a nos agarrar à segurança. Essa vontade é muito maior do que o nosso desejo pela liberdade. E tem essa frase do Juan Fernandes: a mais suave brisa do desejo por segurança consegue abalar o mais alto edifício da liberdade.
Íntegra aqui:
5) Escutei outro dia essa citação do Günther Anders:
O mais espantoso é que o espantoso não espanta mais ninguém.
Edvard Munch, 1893, The Scream [O Grito]
6) Passei horas lendo essa transcrição de um depoimento performático do poeta Waly Salomão. Se tiverem paciência e tempo, recomendo vivamente. Uma das pérolas que ele compartilha é essa legenda medieval:
Nec spe nec metu, que significa “nem esperança, nem medo”.
Funciona como um lembrete para voltarmos ao momento presente. Íntegra aqui.
7) Na entrevista citada acima, Peter Schjeldahl, recita esse trecho de poema do Edwin Arlington Robinson, que traduzo livremente aqui:
Ele deve ter tido pai e mãe -
Na verdade, eu o ouvi dizer isso - e um cachorro
Como todo menino deveria, arrisco; e o cachorro,
provavelmente, era o único homem que o conhecia.
Um cachorro, pelo que sei, é o que ele precisa
Tanto quanto qualquer coisa aqui hoje,
Para aconselhá-lo sobre suas desilusões,
Velhas dores e partos do que está por vir, —
Um cão de ordens, um emérito,
Para abanar seu rabo quando ele chegar em casa,
e então colocar as patas sobre seus joelhos e dizer:
"Pelo amor de Deus, qual o sentido de tudo isso?"
No original:
He must have had a father and a mother —
In fact I've heard him say so — and a dog,
As a boy should, I venture; and the dog,
Most likely, was the only man who knew him.
A dog, for all I know, is what he needs
As much as anything right here to-day,
To counsel him about his disillusions,
Old aches, and parturitions of what's coming, —
A dog of orders, an emeritus,
To wag his tail at him when he comes home,
And then to put his paws up on his knees
And say, "For God's sake, what's it all about?"
8) Estreiou ontem o documentário We Start With The Things We Find, sobre os arquitetos italianos da firma Lot-Ek. O filme, dirigido pelo meu marido Thomas Piper:), vai além de arquitetura e toca em temas como sustentabilidade, globalização e a poesia dos objetos descartados do dia-a-dia. Trailer aqui.
9) Gente, e esses biscoitinhos sem glúten e sem lactose que meu amigo Antonio Biagi acabou de lançar? Fiquei com inveja de quem está no Brasil e pode provar. Aguardando a leva nova iorquina sair do forno. Oie Brasil — sigam no Insta se quiserem ficar com água na boca como eu hehe! Ah… Isso não é publi. É fome, mesmo!
10) A playlist de hoje é toda caboverdiana. Amo, amo, amo esse clima. Está no meu repeat há dias <3
Você conhece o trabalho da Lorraine O'Grady? Ela escreveu um famoso ensaio entitulado "Olympia's Maid" que fala sobre o apagamento da empregada na pintura, como um exemplo da representação eurocêntrica da feminilidade negra. É bem interessante(e super vanguarda pra época em que foi escrito). Inclusive a voz dela está em uma das narrações do vídeo da Simone Leigh que está na Bienal de São Paulo, vídeo incrível por sinal. A O'Grady é muito foda hehe
Thank you pelo carinho ❤️