1) Gal Costa (1945-2022) tinha de ser o primeiro item dessa newsletter – e também o último, a playlist é toda dela. Libriana porreta (fotografada aqui por Thereza Eugenia), musa eterna da voz impecável, nossa cantora foi descrita por Tom Zé assim:
Já Caetano, vocês devem ter visto no Instagram, disse que a música “Minha Voz, Minha Vida” define tudo que ele tem pra dizer sobre sua comadre. O afilhado Moreno Veloso fez sua homenagem também:
Essa menina deitada no meu colo é minha madrinha Gal. Pessoa responsável por minha mãe encontrar meu pai e pra mim a maior cantora do mundo. Desde sempre sou apaixonado por ela. Ouço sua voz incontáveis vezes dentro de casa e dentro de mim. Tenho muito orgulho de ter feito discos pra ela. Hoje choro de amor, de carinho e de saudade. Sei que não estou sozinho. Espero que a música e o silêncio nos confortem a todos.
Te amo muito e sempre.
2) Perdemos outra gigante essa semana: Lee Bontecou. Aos 91, a artista que passou os últimos anos de sua vida reclusa, ficou conhecida por suas esculturas sugestivas que remetiam à cavidades, orifícios do corpo, olhos, vaginas, vulcões, e até naves espaciais. Acopladas à parede, suas criações misteriosas dominam qualquer sala de museu em que são instaladas.
3) Que sorte foi ver Neil Baldwin falando sobre a biografia da coreógrafa Martha Graham: When Dance Became Modern. Ele lia trechos de seu livro e, em seguida, víamos performances dos solos aos quais se referia. Incrível como coreografias de 1933 e 1946 continuam contemporâneas. Como disse Baldwin, fica claro como “um clássico é incansável”. Outra coisa sobre a qual o autor falou foi da relação entre poesia e dança. Para ele, a página branca do papel é como o palco vazio. E mais: a palavra poesia vem de poíesis (do Grego Antigo: ποίησις), em português poíese, relacionado à técnica "poiética" (poética), indica a ideia de criar ou fazer. (via Wikipedia)
Foto de Anne Souder tirada por mim
“O corpo é uma vestimenta sagrada” — Martha Graham
4) Um dos assuntos mais discutidos de 2022 tem sido a morte do Instagram e o fenômeno TikTok. Recentemente assisti a um doc, dica do meu amigo Rafa Azzi, que explica bem o hype da plataforma:
Tudo é descoberto mais rápido, as coisas se tornam virais numa velocidade insana: comida, moda, tutoriais… As 40 músicas mais tocadas das paradas são, hoje em dia, definidas pelo vídeos mais vistos do TikTok. Não tem indústria que não esteja usando o app — todas as marcas querem suas campanhas lá. É a rede que faz sucesso com a Gen Z, geração com os usuários mais valiosos do momento. Os olhos jovens e a atenção deles se transformam em dinheiro.
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5) Por falar em TikTok, vocês já ouviram a expressão “millenial pause”? As gerações mais novas não têm paciência para ouvir vídeos com pausas entre frases. Por isso, quem gera conteúdo para a plataforma tem editado os silêncios no começo e no fim de cada frase. Fica aqui a dica de como fazer isso, caso queiram se comunicar com esse público.
6) Bom demais o novo livro do Jerry Saltz: Art is Life. Para ele:
A arte é o maior sistema operacional que nossa espécie já inventou, um meio de explorar a consciência, mundos visíveis e invisíveis. É um instrumento, meio, matriz ou milagre que transforma velhas impressões em novos pensamentos; e isso faz com que mil detalhes insignificantes te iluminem e atraiam. Para muitos de nós, a arte é um outro país, um novo lar.
O artista é uma espécie de Dr. Frankenstein, transmutando as regras da natureza e do mundo material, memória, influência, cultura e tradição, tentando dar vida a algo novo e desconhecido. Pode ser que a alma da arte seja o instinto. O artista adora se perder em “rabbit holes”, trabalhar a favor e contra algo ao mesmo tempo, traduzindo impressões sensoriais e extra-sensoriais – cada uma delas em uma jornada para trazer algo de um submundo pessoal, para construir um novo corpo de peças e materiais díspares. Assim, a arte se desfaz da morte. (traduzido livremente)
7) Minha amiga Raponesa me mostrou essa galeria nova e supercool de tapeçarias e móveis. Chama Tiwa Select.
8) Tem artista brasileira no New Museum. Vivian Caccuri: The Shadow of Spring. Os sons saindo das caixas de som foram todos gravados direto do corpo de Vivian e do artista que ocupa a mesma sala de exposição, Miles Greenberg. Nas redes de mosquiteiro, vemos imagens de corpos que dançam — são amigos e conhecidos dela, que passaram por festas que ela deu.
9) Querem ver os novos desenhos do Brian Wiggins? É só clicar aqui.
10) Playlist em homenagem à Gal. Ela começa e acaba com interpretações de canções de Dorival Caymmi. Agora ela virou um clássico como ele.
E vocês? O que vão aprontar no fim de semana?
Edição Lucas Alberto
Amando te ler aqui, Gi, cheguei pela Carol Sandler! Ótima curadoria, como sempre!
Mundos novos - tiktok e nada com tempo para virar classico! E adorei mais um hole - black, worm, rabbit ….