Manhã ensolarada na casa de Donald Judd — 101 Spring Street. Via Talita Zaragoza
1) Acabei de visitar a Bienal de São Paulo (não deixem de ir :). Adorei o que vi! Coreografias do Impossível, com curadoria coletiva de Diane Lima, Grada Kilomba, Hélio Menezes e Manuel Borja-Villel, investiga "ancestralidades, diásporas” e apresenta muitos trabalhos que remetem a rituais, muitas instalações e artistas autodidatas, indígenas e afrodescendentes.
Entre os que mais me chamaram a atenção à primeira vista estão:
Julien Creuzet, Carmézia, Geraldine Javier, Edgar Calel, Guadelupe Maravilla, Daniel Lind-Ramos, Judith Scott e Niño de Elche.
Eu estava acompanhada pela artista Bianca Kann (alô, Gisela Projects), companhia maravilhosa para ver e pensar arte, e curtimos muito a sala do Niño de Elche — ficamos um tempão meditando diante dos sons, luzes e vozes. Deu vontade de voltar.
Vista da instalação Auto Sacramental Invisible. Una representación sonora a partir de Val del Omar de Niño de Elche durante a 35ª Bienal de São Paulo – coreografias do impossível © Levi Fanan / Fundação Bienal de São Paulo
Vista da obra Nimajay Guarani de Edgar Calel durante a 35ª Bienal de São Paulo – coreografias do impossível © Levi Fanan / Fundação Bienal de São Paulo
2) Também visitei nesses dias a exposição sobre Ana Mendieta, que acaba de abrir no SESC Pompéia. Não sou a maior fã de video art, mas o cenário é perfeito para acolher os filmes de Mendieta. Enquanto ela “marca” e explora sua silhueta no chão, na água, na areia, e em outros espaços por onde passa, a arquitetura de Lina Bo Bardi se revela em riachos em formas orgânicas que se espalham pelo salão. Um econntro muito bem sucedido! Vai até 21/1.
3) Nos dias em que passei no Rio de Janeiro fiz aulas de yoga divinas com Tininha Vidal. Se passarem por lá (e gostam de yoga) não deixem de conferir. O estúdio fica em sua casa no charmoso bairro da Gávea. Entre um papo e outro, Tininha recomendou também uma aula de Vedanta com Gloria Aieira. Que honra escutar alguém tão sábio analisando textos sagrados da Índia!
Vedanta é uma tradição de conhecimento. Conhecimento de quê? "De um caminho para a verdade", "conhecimento do ser", ou "conhecimento da Verdade".
"Jiva Brahma Aikyam" é a essência do ensinamento — o que significa a identidade entre o indivíduo, aquele que busca, e o todo, que é ilimitado.
Pedra da Gávea
4) Leonard Cohen certa vez leu um poema durante um programa de rádio. O entrevistador perguntou “o que significa esse poema?”. Cohen fez uma longa pausa e releu o poema inteiro mais uma vez.
AMOR VEGETAL, Affonso Romano de Sant’Anna
Não creio que as árvores
fiquem em pé, em solidão, durante a noite.
Elas se amam.
E entre as ramagens e raízes se entreabrem em copas
em carícias extensivas.
Quando amanhece,
não é o cantar de pássaros que pousa em meus ouvidos,
mas o que restou na aurora de seus agrestes gemidos.
5) Gostei dessa reflexão de Devorah Heitner:
Equipar seus filhos com a capacidade de julgamento — e deixar que eles experimentem as consequências de seus atos sem tentar impedir que cometam erros — é o único jeito de educar jovens adultos preparados para funcionar de forma independente”
Ryan McGinley
6) Essa matéria no NYTimes trata das discrepâncias entre o que achávamos que sabíamos sobre o universo — e sua formação —, e o que as imagens do telescópio James Webb Space tem mostrado. Um doce lembrete do grande mistério do mundo:
De acordo com o modelo padrão, que é a base para essencialmente todas as pesquisas na área, há uma sequência fixa e precisa de eventos que se seguiram ao Big Bang: primeiro, a força da gravidade reuniu regiões mais densas no gás cósmico em resfriamento, que cresceram para se tornarem estrelas e buracos negros; então, a força da gravidade reuniu as estrelas em galáxias.
Os dados do Webb, porém, revelaram que algumas galáxias muito grandes se formaram muito rapidamente, num tempo demasiado curto, pelo menos de acordo com o modelo padrão. Esta não foi uma discrepância menor. A descoberta é semelhante à dos pais e dos seus filhos que aparecem numa história quando os próprios avós ainda são crianças.
Não foi, infelizmente, um incidente isolado. Houve outras ocasiões recentes em que as evidências por trás da compreensão básica do universo pela ciência foram consideradas radicalmente inconsistentes.
7) Já faz um tempo, mas continuo emocionada. No começo do mês, tive a chance de apresentar o artista Miguel dos Santos ao David Byrne, meu amado Talking Head. Isso aconteceu enquanto eu trabalhava para a galeria Galatea na feira Independent. Byrne é um apaixonado por cultura brasileira e sempre está presente nos shows da nossa terrinha que viajam até Nova York.
Eu e ele. Ele e eu. Ah! E o Miguel dos Santos também :)
8) Uma mensagem de Sêneca:
Uma pedra preciosa não pode ser polida sem fricção, assim como um homem não se aperfeiçoará sem desafios.
E outra de Audrey Lorde:
O silêncio não vai nos salvar.
9) Outro dia, numa aula de filosofia que faço, o professor citou um slogan político que diz “y tu, que?”. Uma pergunta curtíssima — em castelhano — que joga a responsabilidade de ação em quem lê. E você? O que está fazendo para “mudar o mundo?”
Ed Ruscha
10) A playlist de hoje é uma reunião de Shazams que dei nas pistas do Rio de Janeiro com um alô pra Vanessa da Mata, que se apresentou lindamente anteontem na festa do MASP:
Que poema lindo!!! Obrigada Gisela; vc sempre surpreende 👏
... e sem contar que Byrne é um sério conhecedor/pesquisador de forró, eu amo muito (forró e Byrne!) <3