Hottest Takes #35
Postagem de João Farkas — “Um abismo no meio do Atlântico! Uma das coisas mais fascinantes na fotografia aérea em imagens de paisagens naturais é que ao eliminar o horizonte perde-se a referência principal de orientação e a imaginação começa a funcionar a todo vapor tentando decifrar o que se vê. Gire a tela 180 graus e veja novamente esta imagem.” Morro Branco no litoral do Ceará. Imagem da série Costa Norte
1) Já ouviu falar de impaciência cognitiva? Trata-se da incapacidade de manter a atenção focada em uma única tarefa. Aquela dificuldade de ler um texto do começo ao fim — sem interromper a leitura para fazer outra coisa, sem se distrair ou querer mudar logo para a próxima atividade. Sabe?
Miró
2) “O que quer que seja, que seja massa”— Jout Jout. Essa e outras máximas fascinantes você escuta no extinto minipodcast da época em que ela era cronista do programa Saia Justa. São antigos, mas ainda atuais — o último foi gravado em novembro de 2022. Acho a Jout Jout genial, amo ouvir tudo o que ela tem pra falar — uma filósofa da vida contemporânea, que se escuta, que observa seu entorno e reflete sobre os temas mais variados.
Ela parou de alimentar seu canal no YouTube — primeiro, porque foi rodar o Brasil e depois, porque foi morar “no mato”. Em março desse ano, tornou-se mãe. Minha recomendação? Comecem a ouvir o primeiro episódio e escutem todos até acabar. Repita o ciclo até incorporar os ensinamentos :)
3) Outro podcast bem interessante que escutei esses dias foi o Lá Fora, que uma amiga querida indicou. No último episódio, por exemplo, os três psicanalistas Marielle Kellermann, Vanessa Correa e Pedro Colli se perguntam se estamos vivendo uma fase maníaca do mundo. Segundo eles, “defesa maníaca” é uma estratégia inconsciente de lidar com a angústia. Super interessante.
4) Minhas amigas de infância estavam em NYC essa semana, então fizemos alguns programinhas turísticos deliciosos na cidade. Num dos passeios, visitamos a Stick Stone & Bone, uma loja de cristais e outros apetrechos como incensos, velas, joias e dream catchers. Eram tantas opções, que fiquei desnorteada — não consegui adquirir nem um palo santo.
5) Assisti ao primeiro episódio do seriado em 3 partes sobre o lendário saxofonista Wayne Shorter [1933-2023], Wayne Shorter: Zero Gravity (Amazon Prime Video). Adorei a frase dele que se refere a jazz, mas que vale pra vida toda: you can’t rehearse the unknown — em tradução livre, “não dá para ensaiar para o desconhecido.”
Outra muito boa é a declaração do Carlos Santana que batiza o documentário: “você conversa com [Wayne] e sabe que está na presença de algo com gravidade zero, sem tempo, sem medo. Você está num lugar de graça e deslumbramento.”
Aqui, uma das músicas que mais amo no mundo:
6) Assiti a uma palestra fantástica com o filósofo Peter Pál Pelbart. Ele falou sobre o corpo no mundo de hoje. Num dos highlights, ele se referiu a Nietzsche: “estar a altura da própria fraqueza é a sua força; desejar sempre a força é o desejo do fraco. O ‘homem maior’ é o que se deixa tocar, que se afeta pelo mundo, que se abre para as sutilezas e não se blinda diante do externo. A vulnerabilidade nos deixa mais sensíveis ao mundo — eu sofro, eu sinto.”
No mesmo dia em que ouvi essa aula, o shuffle do Spotify tocou Milágrimas do Itamar Assunção. Tudo a ver.
7) E essas frases? Para reflexão:
Tudo o que não invento é falso — Manoel de Barros
A melhor crítica a um poema é outro poema — John Cage
John Cage, 1987 — Susan Schwartzenberg/the Exploratorium
8) Por falar em John Cage, seu contemporâneo Robert Rauschenberg dizia que ao viajar, percebia que aproveitava muito os países que não conhecia. Uma das melhores experiências para o artista era a de se perder: “quando a gente se perde, a gente olha para as coisas com muito mais atenção.” Por isso, RR usava mapas como matéria prima de suas criações, refletindo sua fascinação com o familiar dando lugar ao misterioso:
9) Esses dias acordei com uma recomendação de leitura do meu amigo querido Guga Chacra. O artigo do New York Times “Two Laguages Walk Into a Bar” — Duas Línguas Entram num Bar — analisa as influências da língua espanhola na inglesa em Miami. Com a grande quantidade de habitantes bilíngues daquela cidade, começaram a observar mudanças no jeito de falar e formar frases nos dois idiomas.
Um dos exemplos: agora é comum escutar “make a party” em vez de “throw a party”, incorporando o “hacer una fiesta.” Por outro lado, os latinos falam: “Llamame pa’atras” em Spanglish, que seria uma versão de “call me back.” Fascinante, não? O artigo também fala de influências do yiddish e do dinamarquês no inglês.
10) Ofereci uma tarde de aperitivos e drinks para amigos vizinhos aqui em casa outro dia. Essa foi a trilha: