Pintura de Ricardo Alves na exposição de avaf no SESC Avenida Paulista
1) Quanto mais leio sobre IA, chat GPT, algoritmos e afins, mais aprecio momentinhos como esse abaixo. No vídeo, o músico Bobby McFerrin demonstra o poder da escala pentatônica usando a participação — e a intuição — do público no evento "Notes & Neurons: In Search of the Common Chorus". De arrepiar, não?
2) Um dos melhores filmes que vi esse ano: Air. Com direção de Ben Affleck, o longa — que já está disponível na Amazon e na Netflix — tem Matt Damon no papel principal e conta a história do Air Jordan da Nike. Uma revolução no marketing esportivo! Meus filhos de 12 anos viram comigo e também adoraram :)
3) Tem poemas que são preciosidades, né? Outro dia, minha amiga Sandra Jávera me mandou um que parecia cinema de tão visual e movimentado que era. Trata-se da tradução de um poema de Mario Montalbetti, no livro Apolo Cupisnique via Leonardo Gandolfi:
Aviões de Papel
que tal dobrar
uma folha de papel
com esmero
nos pontos indicados
dobrar desdobrar
dobrar de novo
repetir a dobra
várias vezes
até alcançar
a forma desejada
soprar ar quente
na ponta
finalmente lançar
para longe
ou sobre um arbusto
e esperar que volte
mas o método
verdadeiramente nobre
é dobrar o vento
nos pontos indicados
dobrar desdobrar
dobrar de novo
lançar contra
uma folha de papel
e não esperar nada
Foto via designboom
4) Entrevistei o artista Ricardo Alves (time Gisela Projects!) para saber sobre a participação dele na mostra “alterações vividas absolutamente fantasiosas” de avaf no SESC Av Paulista:
Gisela: Você já trabalha há 4 anos no ateliê de assume vivid astro focus (avaf). Como surgiu o convite para que você e outros assistentes participassem da exposição no SESC Avenida Paulista?
Ricardo: avaf trabalha em uma variedade de mídias. Meus colegas e eu damos assistência especificamente na produção de pinturas. Fomos convidados por avaf a ocupar livremente uma das salas da instalação projetada para o SESC. Pelo nosso convívio e conhecimento da forma de trabalhar de avaf e sua trajetória, decidimos criar especificamente para esta ocasião. Trouxemos nossos interesses individuais nos trabalhos, buscando ao mesmo tempo reverberar a energia do coletivo avaf.
Gisela: Conta um pouco sobre a exposição.
Ricardo: “alterações vividas absolutamente fantasiosas” é o título da exposição, que se trata de uma instalação interativa e imersiva em forma de labirinto apresentando papéis de parede e vídeos produzidos por avaf nos últimos 20 anos. Isso tudo é trazido de forma pensada e reelaborada para o contexto do SESC. Eu diria que esta exposição é uma oportunidade excelente de conhecer de forma direta, atualizada e não-convencional a trajetória de avaf.
Gisela: Quais trabalhos seus fazem parte da mostra? Você poderia contar um pouco sobre cada um?
Ricardo: Produzi cinco pinturas, a principal é “Lance de mãos” [primeira imagem da newsletter de hoje], que se configura como uma espécie de patchwork de mãos em diferentes situações pintadas por alguns artistas. Incorporar, revisitar, refazer, reler, religar, remixar e expandir fazem parte da forma avaf de produzir. As outras são quatro telas menores, cada uma com uma letra da palavra “avaf”, além de reforçar esta sigla — o que é um procedimento recorrente no trabalho do coletivo — brincam com o vocabulário imagético oriundo das pinturas e do ambiente do estúdio avaf.
Fotos via @avaf
Serviço:
SESC Av Paulista
Av. Paulista, 119 — Bela Vista
De 12/5 a 30/7
Mais detalhes aqui
5) Gente do céu, quase morri de emoção com a entrevista que Roberto de Carvalho deu para Renata Ceribelli logo depois da morte de Rita Lee. Tão vulnerável, tão real. Clique aqui para assistir caso não tenha visto — e já prepara o lencinho…!
6) Pura luz a conversa de Dudu Bertholini com Ale Farah — uma aula sobre diversidade e sustentabilidade. Essa frase dele é tudo: luxo deve ser sinônimo de procedência. Também achei muito boa a reflexão — “a diversidade tem de estar presente na estrutura, em cargos de decisão (…) Mas a diversidade carrega uma armadilha: para que seja diverso, é preciso que exista “a norma”. Pluralidade é quando a gente começa a pensar que cada um de nós somos diversos também. Você só consegue falar de diversidade quando reconhece o que é diverso em você.” Para escutar o podcast na íntegra, clique aqui.
Dudu Bertholini
7) Escutei muitos podcasts essa semana. Como é bom ouvir entrevistas longas em que você sente que conheceu um pouco a pessoa para além daquele publi sobre o novo trabalho/peça/seriado/filme/projeto que a pessoa está divulgando. No Fresh Air, curti o que o Brett Goldstein — aka Roy Kent em Ted Lasso :) — disse na entrevista:
Certa vez testemunhei um momento, algo muito pequeno, mas lembro de pensar: é isso. Essa é a vida.
Eu estava em uma cerimônia, uma coisa muito emocionante, meio privada, comovente e importante. Muita gente chorando. Aquela coisa silenciosa — alguém estava falando lá na frente e foi muito, muito especial.
Atrás de mim — eu estava no fundão —, tinha uma senhora mais velha preparando o chá para depois do velório. E a bandeja estava sobre um carrinho com rodas, e uma das rodas estava rangendo. E a bandeja estava tremendo tanto… aquela coisa comovente acontecendo lá na frente e, atrás de mim, a mulher fazendo tanto barulho, mas também tentando não fazer barulho, o que tornava o barulho ainda mais alto. Foi engraçado!
E eu pensei, isso é a vida. Estou entre essa coisa linda e profunda na minha frente e, atrás de mim, essa coisa ridícula e mundana que é uma mulher tentando empilhar algo silenciosamente. Você sabe o que eu quero dizer? Isso é a vida toda em um só momento.
8) Recebi de um seguidor antenado a entrevista que Jeff Koons deu a Anderson Cooper no The 60 Minutes Interview essa semana. Ao ser criticado, no passado, por não ser quem executa suas obras de arte que levam até 33.000 horas para serem feitas, Koons responde ao entrevistador: “Anderson, já imaginou se além de me entrevistar você tivesse que cuidar da iluminação, da produção e de tudo o mais do programa?" Cooper responde “se dependesse de mim, estaríamos no escuro!” A ideia mais recente do artista? Mandar obras de arte pra lua. Em inglês, na íntegra, aqui.
9) A exposição pedra sem-mundo, com curadoria de Ana Roman, é fruto da primeira parceria Gisela Projects x galeria Estação. Entre 26/5 e 10/6, o segundo andar da galeria será ocupado por trabalhos das artistas Bianca Kann, Chiara Banfi, Goia Mujalli, Manuela Costa Lima e Melissa Dadourian. Como sugerido pela curadora, “a exposição é um convite para que sigamos as linhas entre as superfícies nos trabalhos, e que deixemos que elas nos guiem pelo espaço.” Trabalhos que têm em comum “um perceptível desejo pelo toque”. Quem vem? Estarei lá e vou amar encontrar leitores :)
Abertura: 26/5, sexta-feira, das 19h às 21h
Visita guiada com a curadora Ana Roman: 27/6, sábado, 11h
Preview: aqui!
Encerramento: 10/06
Endereço: Rua Ferreira de Araújo, 625 — Pinheiros
10) A playlist de hoje eu fiz para ouvir no aeroporto. Quem quer escutar?
Amei a versao escrita! Continue escrevendo muito 🌷
Amei Air tambem 🙈. E amei a reflexão do Brett Goldstein.