1) Tem uma esquina mágica em Nova York, na Quinta Avenida com a Rua 59, onde sempre encontramos uma obra de arte. Por trás da iniciativa está o Public Art Fund – que dessa vez selecionou a artista inglesa Bharti Kher (1969), e sua “Ancestor” (foto acima) para expor lá. A escultura de bronze, de 6 metros de altura, é réplica de uma estatueta que a Kher adquiriu num mercado na Índia — sua identidade e seus ancestrais são partes fundamentais da poética da arista. Num post recente sobre a escultura, ela escreveu (traduzido livremente):
Seus antepassados te ajudam; eles deixam mensagens espalhadas por toda a terra para você pegar, ouvir e sacar. Eles deixam poemas e desenhos, diários e canções, mas também deixam fantasmas em sua mente e segredos sussurrados pelos ventos. Eles aparecem em seu corpo como exilados e protetores; eles carregam o indizível; eles nos carregam para suportarmos fardos, como sentinelas que guardam nossos corações; eles plantam sementes em nosso estômago e árvores em nossos jardins. Enviam guardiões para protegê-lo e, alguns desafios difíceis para testá-lo, através de pessoas que ferem como fúrias selvagens. Olhos amarelos que evocam nuvens escuras de raiva e dor. Mas "Ancestor" também é o guardião e o destruidor da vida. Leva todas as pontuações e os espíritos mortos para casa, para descansar. De mãe para filho ad infinitum. Vocês são formados por milhares de pessoas de todas as partes desse campo energético. Eu também. Não tenho ideia de quem sou ou do que sou composta. Mas a arte me ajuda a descobrir isso. Ela sempre salva e me diz que tudo está bem.
2) Sempre que a artista e escritora Maira Kalman lança um livro, corro comprar. Hoje devorei seu mais recente “Women Holding Things”. Tem de tudo, desde uma senhora segurando seu quadril e a mulher de Cézanne segurando sua família, até Gertrude Stein segurando a onda de ser quem ela é de verdade, além da artista Kiki Smith segurando um pote de mel em seu jardim. Numa das reflexões quase-zen ela diz:
Segurar uma coisa específica é algo muito legal de se fazer. Você está lá, de pé, e você segura um repolho enorme, ou um violino, ou um balão colorido. Isso é um trabalho em si. O simples fato de fazer uma coisa.
3) Preciso ficar amiga da artista Mary Heilmann :). Ela saltava de trampolim tão bem que virou mergulhadora profissional aos 11 anos, na Califórnia; decidiu ser ceramista e escultora e foi colega de faculdade de Bruce Nauman; depois namorou Richard Serra e Gordon Matta-Clark (meu artista favorito da vida toda); usa nomes de música para batizar suas obras; organiza suas pinturas em pequenos grupos “como se fossem pensamentos”; artisticamente promíscua, busca ir contra a ideia de que pintura abstrata deve ser pura e contamina sua telas com cores e formas do mundo ao seu redor; é especialmente influenciada por música pop. Seu encanador? Philip Glass. Ah, e ela conhecia Andy Warhol também.
4) Por falar em Warhol, estou vendo a série na Netflix “The Andy Warhol Diaries” e adorando (sei que não é novidade, mas estava atrasada com seriados :)). A voz dele criada por inteligência artificial soa super convincente e faz parecer que é ele mesmo que está ali a contar os causos!
Pintura de Alice Neel, 1970
5) Quem já viu Tár, filme novo que tem Cate Blanchett no papel principal? No longa dirigido por Todd Field, a australiana interpreta uma maestrina bem sucedida, de personalidade complexa. Num perfil escrito pelo jornal NYTimes, ela fala – ou evita falar! –, de forma poética e bem indireta – sobre seu processo. Na conclusão, ela faz um paralelo belíssimo sobre atuar e caminhar. Sobre esse “estar entre” duas coisas:
Ela diz que uma longa caminhada é uma experiência de processo, de estar no espaço entre o lugar onde você começou e o lugar onde você eventualmente estará. “É como aquele momento de suspensão na dança quando você não sabe se o dançarino está decolando ou prestes a pousar”, disse Blanchett. Ela gesticulou com o corpo, como se fosse alçar voo e pairar. “Aquele momento, aquela inspiração antes de as palavras saírem ou a música sair.” Ela sorriu. “Quero estar nesse lugar. Quero estar permanentemente lá.”
Foto via NYTimes
5) Comprei ingressos para ir ver a nova coreografia de Gianna Reisen, “Play Time” para o New York City Ballet. Mas a razão verdadeira da empreitada era escutar a trilha sonora assinada por Solange Knowles. Sou mais da dança contemporânea e, ainda assim, curti a experiência. O que me chamou a atenção foi o figurino maluquetes – adorei conhecer o trabalho do Palomo. Os looks continham mais de meio de milhão de cristais Swarovski. Que tal?
Foto Julieta Cervantes for The New York Times
6) “Mestre não é quem sempre ensina, mas quem de repente aprende”, Guimarães Rosa, em Grande Sertão: Veredas. Foto fofa do autor com seus gatos: clica aqui para ver.
7) Conhece o trabalho da Sofia Lotti? Sou apaixonada: clica aqui para ver.
Sofia Lotti, “Primavera”, 2022
8) Emoji virou algo cringe. A Geração Z cancelou vários deles e considera o clássico joinha inaceitável e sarcástico.
9) Modinha: a atriz e dona da marca The Row, Mary Kate Olsen, tem uma sandália dessas em seu armário: Teva Women's Voya Infinity Sandal. Bem mais acessível que os sapatos da marca dela :*
10) Querem mais uma playlist? Voilà!
Nos falamos em breve! Deixe comentários contando o que mais querem ler por aqui.
Me senti muito vindicada quando fiquei sabendo que jovens tem bode do joínha, meus sogros e minha cunhada usam e sempre me causaram vergonha alheia.