Pinturinha perfeita de Evandro César — parte da expo Gisela Projects que abre hoje no Taller Zaragoza das 17-21h. Vem!
🇺🇸 For my newsletter in English:
1) Donna Haraway em “Ficar com o Problema”:
Figuras de barbante [camas de gato] são como histórias; elas propõem e encenam padrões para os participantes habitarem, de alguma forma, uma terra vulnerável e ferida. Brincar com “figuras de barbante” [cama de gato] tem a ver com dar e receber padrões, com soltar os fios e falhar mas, às vezes, encontra-se algo que funciona, algo consequente e talvez até mesmo belo, que não estava ali antes. Esses jogos tratam da retransmissão de conexões que importam, da narração de estórias de mão em mão, dígito sobre dígito, de um local de vínculo a outro, a fim de fabricar as condições para o florescimento finito na Terra, em terra. As “figuras de barbante” [cama de gato] exigem que se fique parado para receber os fios e passar adiante os padrões. Esses jogos podem ser feitos por muitos seres, com quaisquer tipos de extremidades, contanto que o ritmo entre dar e receber seja sustentado.
2) Vocês sabiam que palavras cruzadas ficam mais fáceis no dia seguinte? Quando a resposta “já está no ar”? Aqui.
Um famoso exemplo da maneira como a consciência coletiva funciona é o fenômeno das palavras cruzadas. A pesquisa sobre esse assunto foi conduzida pela primeira vez por Monica England, uma estudante de pós-graduação na Grã-Bretanha. Ela descobriu essencialmente que as palavras cruzadas eram mais facilmente resolvidas por outros depois que eram publicadas em um jornal e concluídas por um grande grupo de pessoas.
Esta pesquisa aponta para a existência de uma consciência coletiva – à medida em que as palavras cruzadas são visualizadas e completadas por uma massa crítica de pessoas, essa informação se torna parte da consciência coletiva e pode ser transmitida de uma mente para outra. Quando tais fenômenos ocorrem, não há outra explicação além de uma consciência coletiva, ou a ideia de que estamos todos ligados por uma consciência universal subjacente.
3) Por influência do Rodrigo Amarante (que fez a trilha), assisti ao longa Three Daughters na Netflix. Não é um filme fácil. Chorei loucamente, já que trata de três filhas esperando o pai falecer. (Hoje em dia, tenho a impressão de que sempre que choro, estou chorando de novo a morte do meu pai que aconteceu quase 4 anos atrás. Alguém mais tem essa sensação? De que qualquer choro “carrega” também o choro do luto?). Enfim, anotei duas frases ditas no filme que adorei:
Só porque não reclamo não significa que não tenho problemas.
A única maneira de comunicar como a gente sente a morte realmente é através da ausência. Todo o resto é fantasia.
Uma das irmãs é a Carrie Coon, do White Lotus 3!
E para quem tiver estômago — e gosta de ler em inglês —, vale conferir esse texto do Sam Kriss falando sobre câncer e a morte de sua mãe. Obviamente, é de dar nó no peito. Via
. Aqui.4) Exatamente como me sinto quando ofereço minhas visitas guiadas de arte:
5) Amei ouvir o sempre discreto Isay Weinfeld em entrevista com Paulo Lima, no podcast da Trip. Segundo o arquiteto: “quero fazer algo tão perfeito quanto o beirute do Frevinho”. Melhor analogia, nunca ouvi.
Cheguei hoje em SP e devo almoçar direto no Frevo hahaha. Quem vem na exposição no Taller Zaragoza? Por favor, hein, não me decepcionem :). Preview aqui.
6) Outro podcast fantástico — mais antigo — que ouvi esses dias foi uma entrevista com Pedro Pascal:
Lá pelo minuto 31:20 ele fala que, desde que tinha 4 anos de idade, seus pais o levavam para museus, shows, balés e jogos de basquete e ele reclamava muito. Mas que, aos 18, quando foi morar em NY e se sentiu deprimido (ele conta que perdeu a mãe cedo), foram as idas ao museu que o salvaram. Ele era especialmente fascinado por essa pintura do Henri Rousseau no MoMA. Óbvio que coloquei esse trecho na caixa de som para meus filhos ouvirem hahaha.
The Dream, 1910
7) Outro dia no MoMA vi uma exposição divertidíssima: Pirouette, sobre objetos de design que marcaram o mundo. Uma frase no texto da mostra fisgou minha atenção: “objetos têm consequências”. Tinha desde emoji, walkman, celular das antigas, post-it, caneta Bic, M&M, Crocs, bandeira de arco-íris do orgulho LGBTQIA+, computador da Apple até cadeira de plástico, bota Margiela com dedão dividido, unhas postiças, cafeteira Bialetti, cinta elástica e saquinho de papel craft.






8) Estou fazendo um curso sobre o livro Mil Platôs, publicado em 1980 — uma colaboração entre Gilles Deleuze e Félix Guattari. O primeiro capítulo é dedicado ao conceito de rizoma. Uma explicação didática via Razão Inadequada:
O pensamento rizomático se move e se abre, explode em todas as direções. Colher conceitos na botânica já é fazer um rizoma entre os saberes. Pesadelo do pensamento linear, o rizoma não se fecha sobre si, é aberto para experimentações, é sempre ultrapassado por outras linhas de intensidade que o atravessam. Como um mapa que se espalha em todas as direções, se abre e se fecha, pulsa, constrói e desconstrói. Cresce onde há espaço, floresce onde encontra possibilidades, cria seu ambiente.
9) Queria agradecer pela audiência de vocês! Achei intrigante descobrir que essa newsletter é lida em 48 países diferentes. Brasileiros everywhere :)
10) O que tenho ouvido no metrô. Um mix obsessivo pautado por Bad Bunny, algumas musiquinhas tristes e Lovers Rock:
Pensamentos rizomáticos! ❤️
Fui ver His Three Daughters por influência da Natasha Lyonne e, assim como você, chorei litros. Não só durante o filme, mas nas reflexões que foram surgindo ao longo dos dias seguintes. Tantas coisas ali, né? Sobre o choro do luto, concordo em gênero, número e grau. É assim por aqui também. Abraços carinhosos.