Albrecht Dürer, Estudos de Travesseiro (1493)
1) Meus textos de arte favoritos são da Roberta Smith, a crítica de arte do NYTimes que se aposentou ano passado — depois de 32 anos e 4500 reviews.
Amo essa história, que já ouvi ela contar mais de uma vez — em conversa com o Brooklyn Rail e no podcast talkART:
Tomei consciência da ideia de qualidade antes de descobrir arte. A minha primeira experiência estética foi entrar no Mercedes da minha tia. Ela era uma corretora de imóveis em Westchester. Entrar naquele carro e, de repente, perceber que não era um Buick [carro popular americano].
Simplesmente compreender que existem coisas realmente ótimas. Estou pensando numa definição mais ampla do que é arte. Sou muito dedicada ao visual, e muito dedicada a uma ideia — que agora parece insolúvel —, não visual, mas social também: a ideia de que temos tantos edifícios feios neste país; e quem pensa que isso não afeta a forma como as pessoas se desenvolvem e pensam, está louco! É uma doença.
Quando ouvi essa história, lembrei de uma Mercedes antiga que, por algum motivo, foi parar em nossa casa quando eu era criança. Acho que o chefe do meu pai queria se desfazer do carro e ofereceu a ele por um valor “simbólico”. Fato é que lembro do cheiro do banco de couro (novidade pra mim na época), que tinha também (alô, anos 80!) um furo de brasa de cigarro. Pelo furo, via-se uma espuma amarela… Enfim, uma lembrança estética e sensorial!
2) Provérbio zen:
Você deveria sentar em meditação por 20 minutos todos os dias, a não ser que seja muito ocupado — nesse caso, deveria meditar 1 hora por dia.
Foto via Vice
3) Há alguns episódios dos Elefantes na Neblina que preciso ouvir mais de uma vez para absorver a profundidade do que foi dito. Já escutei 3 vezes o último — amei o que o Be falou a ponto de querer transcrever aqui:
A busca da certeza é o maior empecilho na busca pela verdade.
Você surfa a intensidade do momento. Você não pega a onda e muda a onda. Você surfa, segue o movimento [da onda] e faz como no kite[-surf]. Usa a vela da tua consciência para dar um vôo. Quando você saiu, quando conseguiu velocidade de escape, por alguns instantes estará fora da limitação da condição humana… Até você chegar na água de novo.
Só não entendo a obsessão deles em querer concluir tudo com “kabams!”. Especialmente diante do tipo de conteúdo que compartilham, seria muito mais condizente aceitarem que nem sempre precisamos terminar discussões espirituais com efeitos estilo drop the mic. Sinto falta de mais neblina ;)
4) Essa ilustração (via @ spiritdaughter) me lembrou o conceito de devir, de Gilles Deleuze. Talvez o knowing na imagem abaixo seja um devir:
“Devir” é certamente e em primeiro lugar mudar: não mais se comportar ou sentir as coisas da mesma maneira; não mais fazer as mesmas avaliações. Sem dúvida, não mudamos a nossa identidade: a memória permanece, carregada de tudo o que vivemos; o corpo envelhece sem metamorfose. Mas “devir” significa que os dados mais familiares da vida mudaram de sentido, ou que nós não entretemos mais as mesmas relações com os elementos costumeiros de nossa existência: o todo é repetido de outro modo.
Para isso é preciso a intrusão de algo de fora: alguém ou alguma coisa entrou em contato com algo ou alguém diferente de si mesmo, algo aconteceu. “Devir” implica, portanto, em segundo lugar, um encontro: algo ou alguém não se torna si mesmo a não ser em relação com outra coisa.
Feeling (sentir), understanding (entender), knowing (saber).
5) E essa propaganda dos AirPods 4 da Apple dirigida pelo Spike Jonze estrelando (meu crush) Pedro Pascal com direito a hit do duo brasileiro Tropkillaz? Amei muito e, como New Yorker, me identifiquei com essa capacidade de dar uma trilha sonora à cidade conforme se escuta música. Pascal arrasou na coreô de Tanisha Scott — que chileno mais cheio de bossa!
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