A Primavera Verde Amarela de Nova York
Do Guggenheim ao MoMA: artistas brasileiros dominam a cidade
Da minha coluna no Pipeline do Valor Econômico, aqui.
Por Gisela Gueiros de Nova York
Com múltiplas exposições individuais e coletivas dedicadas a artistas brasileiros, Manhattan está tomada por trabalhos de Beatriz Milhazes e Adriana Varejão passando por Volpi e Mestre Didi até Abdias Nascimento e Rubem Valentim. Isso, sem contar as mostras recém-fechadas de Madalena dos Santos Reinbolt no Folk Art Museum e de Laura Lima na galeria Tanya Bonakdar, no bairro do Chelsea.
Beatriz Milhazes: Rigor and Beauty no Museu Guggenheim até 14 de setembro
Numa sala no quinto andar do museu em espiral, projetado por Frank Lloyd Wright, as formas geométricas de Beatriz Milhazes parecem ter encontrado sua praia. São 15 telas – quase todas monumentais – feitas entre 1995 e 2023. Milhazes e suas inspirações cobrem um terreno vasto de brasilidades – Tropicália, Bossa Nova, a paisagem do Jardim Botânico, os acessórios em crochês e os cacarecos da casa de sua avó, Tarsila do Amaral, arquitetura barroca, Antropofagia, Carnaval – e incorporam também referências da própria história da arte, como Matisse e Mondrian, além de tecidos e kimonos de sua tela mais recente.
Vale destacar também a técnica do monotransfer, criada pela artista e investigada na mostra. A curadora Geaninne Gutiérrez-Guimarães se dedica a explicar o processo metódico que envolve pintar uma imagem num pedaço de plástico e colá-lo na tela, produzindo uma imagem espelhada com tinta acrílica. Figura fundamental para a existência de Rigor and Beauty é Fred Henry, presidente da Bohen Foundation. Ele colecionava trabalhos da artista e chegou a comprar cinco telas para a fundação. Em 2001, doou todas ao museu e a exposição no Guggenheim gira em torno dessas obras do acervo.
Adriana Varejão Don’t Forget, We Come From the Tropics na Hispanic Society até 22 de junho
Faz todo o sentido organizar uma excursão até o bairro de Washington Heights, entre as ruas 155 e 156 ao norte da ilha de Manhattan, para ver os maxi-pratos inéditos de Adriana Varejão. Reunindo novas esculturas de sua série Plates, a exposição inclui também um trabalho site-specific em volta da escultura que fica a céu aberto, no pátio do museu. A artista “enroscou” uma cobra na estátua de bronze feita em 1927 por Anna Hyatt Huntington retratando El Cid montado em um cavalo – aquele tipo de intervenção que fará falta quando for embora.
Os novos trabalhos da carioca indicam a floresta Amazônica como parte fundamental da ecologia, da arte e da cultura. As peças se desenvolveram a partir da pesquisa feita pela artista para a Bienal das Amazônias, em 2023, e dos estudos dedicados aos povos Yanomami nas últimas duas décadas. Cerâmicas Palissy, Marajoara e da dinastia Ming também estão entre as inspirações de Varejão.
A brasilidade aparece no título da mostra que homenageia a artista surrealista brasileira Maria Martins. Don’t Forget, We Come From the Tropics — ou Não Se Esqueça Que Venho dos Trópicos. Além dos trabalhos produzidos para a mostra, a artista fez uma curadoria de cerâmicas históricas do acervo do museu, expostas em torno das suas, questionando hierarquias estéticas entre artesanato, decoração e artes visuais.
Mestre Didi: Spiritual Form no El Museo del Barrio até 13 de julho
Com curadoria do brasileiro Rodrigo Moura ao lado de Ayrson Heráclito e Chloë Courtney, Spiritual Form examina o trabalho do escultor, escritor e líder espiritual afro-brasileiro Mestre Didi e celebra as contribuições culturais e espirituais da comunidade afro-brasileira. Com mais de 30 esculturas feitas entre 1960-2010, a exposição contextualiza a obra de Mestre Didi ao apresentá-la ao lado de trabalhos contemporâneos de artistas como Nádia Taquary, Emanoel Araújo, e Abdias Nascimento.
Mestre Didi, 1977
Sign Posts no MoMA por tempo indeterminado
Por falar em Abdias, o artista está com trabalho exposto também no Museu de Arte Moderna — sala 407. A exposição Sign Posts trata da relação desse e de outros artistas internacionais com a criação de símbolos, diagramas, sistemas pessoais, linguagens visuais, sinais e do papel deles como guias – ou faróis – apontando um caminho na disseminação de ideias complexas. Entre pinturas e trabalhos sobre papel, as imagens incluem ícones, formas geométricas, e imagens que sugerem espiritualidade, conexões geopolíticas e conceitos matemáticos.
Rubem Valentim, Untitled, 1956-62