A Frick Collection está de volta
Depois de cinco anos em reforma, museu nova-iorquino reabre as portas com o dobro de obras
Por Gisela Gueiros — Nova York, para o Valor Econômico
O mundo das artes já sabe: em caso de reformas “cabeludas” envolvendo instituições consagradas, chame a arquiteta Annabelle Selldorf. Alemã baseada em Nova York, ela foi a escolhida para tocar o projeto de expansão da amada Frick Collection, em Manhattan, com custo de US$ 220 milhões, que reabriu ao público na última quinta-feira.
A firma que leva seu sobrenome também assinou a renovação impecável de 2001 da Neue Galerie – antiga mansão da família Vanderbilt alguns quarteirões ao norte da ilha, convertida em museu/coleção de Ronald Lauder – e a atualização da Sainsbury Wing na National Gallery, de Londres, prestes a abrir no próximo dia 10 de maio, além dos projetos das galerias David Zwirner, Hauser & Wirth e Michael Werner, entre outras da cidade.
Por cinco anos, a Frick Collection fechou suas portas ao público. Temporariamente, se hospedou no prédio de Marcel Breuer, antigo Whitney Museum na rua 75 com Madison Avenue, que foi também emprestado pelo Metropolitan Museum e agora, comprado pela Sotheby’s. Tanto para locais quanto para turistas, poder voltar a frequentar esse museu é motivo de alegria e comemoração.
Frick Madison, no prédio de MArcel Breuer, onde a coleção foi abrigada temporariamente
Nascido em 1849, Henry Clay Frick foi um dos mais influentes industriais americanos da chamada Gilded Age — a “Era Dourada”, com papel significativo no desenvolvimento da indústria siderúrgica, nas áreas do aço e do coque. Foi sócio de Andrew Carnegie e era conhecido por suas práticas comerciais implacáveis, incluindo seu papel na tragédia associada à enchente de Johnstown, ocorrida em 1889, que envolveu a ruptura da Barragem South Fork, resultando na morte de mais de 2.000 pessoas.
Ele estava entre os responsabilizados pelo desastre por conta de seu envolvimento com a gestão da represa. Em seu testamento, Frick pedia que sua casa se tornasse um museu. Ele morreu em 1919, depois de viver por apenas cinco anos na mansão, que continuou ocupada por sua mulher Adelaide e sua filha Helen até 1931, abrindo ao público em 1935.
Boucher Room
As novidades principais da reforma são o auditório, a nova escadaria e o acesso ao segundo andar. O auditório Stephen A. Schwarzman ainda não foi aberto, mas as fotos mostram que ele imita uma concha, super intimista e elegante, com 220 lugares. Segundo Selldorf, “queria que esse lugar tivesse cor de nada, como um dia nublado.”
O novo auditório
A nova escadaria liga a recepção e a bilheteria ao segundo andar e não compete com a icônica escadaria principal do casarão. As 18 toneladas de mármore Breccia Aurora em tons de bege e cinza quase azulado é uma obra prima em si. Depois de muito estudar possibilidades até atingir essa perfeição, a arquiteta fala com humildade sobre o resultado final afirmando que a beleza vem da natureza do material.
A nova escadaria de Annabelle Selldorf
O segundo andar da casa, onde ficavam os quartos da família, abrigava a parte administrativa do museu. Agora, foram transformados em salas expositivas – e cada cômodo reflete o gosto de quem dormia ali. No aposento de Mr. Frick, retratos – a famosa pintura de Ingres (adicionada à coleção depois da morte dele) e a tela para a qual ele escolheu olhar sempre que acordava e ia dormir, um retrato de Lady Hamilton assinado por George Romney.
Pintura de Ingres no quarto de Mr. Frick
No quarto de sua esposa Adelaide, arte barroca e rococó – com os icônicos painéis Boucher. E onde dormia a filha, ficam as pinturas renascentistas religiosas – Piero della Francesca, Fabriano e Lippi, entre outros. O começo da coleção, com pinturas de Corot, Millet, Rousseau e outros artistas associados à Escola Barbizon também migraram para o segundo andar. Como curiosidade, quando moravam na casa, os 3 Fricks contavam com 30 funcionários para cuidar da casa.
Meu queridinho: Rembrandt
Novas salas de exposição – o museu agora mostra duas vezes mais obras do que antes da renovação –, um departamento dedicado a Educação e novos tecidos de parede, passamanarias, além de faxinas profissionais feitas em lustres e objetos, estão entre as outras melhorias que a renovação trouxe.
Pintura de Turner na Biblioteca
Apesar de todas essas mudanças, a reforma soube ser também imperceptível. Quem visita, continua a sentir a mesma energia discreta – apesar do poder – que a coleção passa. Os clássicos todos continuam lá e parecem estar mais brilhantes, mais presentes – os vários Vermeers, Rembrandts, Turners, Velázquez, Goyas, Frans Hals, El Grecos, Ticianos e, talvez o mais amado da coleção, “São Francisco no Deserto”, pintado por Giovanni Bellini. Para arrematar, o museu apresenta nessa estreia trabalhos contemporâneos do ucraniano Vladimir Kanevsky – flores de porcelana que convivem com as obras primas da coleção como se sempre estivessem estado lá. Beleza pura.
Flores de Vladimir Kanevsky
Serviço:
www.frick.org
The Frick Collection
1 East 70th Street
Recomenda-se comprar ingressos com antecedência e reservar horário
Abre de quarta a domingo das 9h às 18h (sextas até às 21h)
Texto perfeito pra um trabalho de arquitetura perfeito para abrigar uma coleção perfeita! Obrigada por juntar todas as perfeições 🤘🏻