Como boa viciada em tranca, estou obcecada pela primeira edição (funcional) de cartas de baralho Gisela Projects, criada por Marina Sader. Fizemos especialmente para a feira de arte NADA de Miami, em dezembro, mas resolvemos oferecer antes da hora para a turminha mais chegada. Se quiser garantir o seu, manda um alô lá no Insta para mais infos <3
1) Quem lê essa newsletter, já sabe que sou apaixonada pelo Rodrigo Amarante. E que, sempre que dá, falo dele. Essa semana, uma leitora compartilhou comigo um vídeo de arrepiar. Um trecho editado abaixo:
Um dia bom é um dia calmo. Numa dada época, comecei a prestar atenção nos pássaros que viviam perto da minha casa. Fui aprendendo o que cada passarinho gostava. Eu acordava, fazia café e sentava do lado de fora… Acabei fazendo amizade com um sanhaço azul — um pássaro muito inteligente. Comecei a oferecer coisas e concordamos que amendoim com casca era a melhor opção de todas.
Então, passei a acordar e, enquanto fazia o café, enchia o bolso com amendoins com casca, sentava do lado de fora. Ele já me esperava. Então, um dia bom pra mim, é um dia em que eu saio de manhã, em que não tenho que fazer nada. Sento no silêncio, ainda não falei nenhuma palavra, ainda nem estou pensando pelas palavras. Ponho a mão no bolso e o sanção já sabe o que vai acontecer. Vem, pousa em frente a mim, pousa na minha mão… e sempre puxo dois amendoins. Ele mede o peso porque quer sempre o mais pesado. Decide qual é o mais pesado, me agradece e vai esconder o amendoim na árvore.
Um dia bom pra mim é um dia que começa com essa conversa que não tem nenhuma palavra, entre eu e esse sanhaço azul.
Obrigada, Ana!Obrigada, Rodrigo :)
2) A partir de micro experiências construímos catedrais — Orphan Pamuk via Paris Review
Foto que tirei outro dia, impressionada com a cartela de cores do outono, mesmo num canteirinho qualquer.
Por falar em outono, ganhei de presente de aniversário um gift card da Kule e comprei a camisa branca Oxford mais perfeita que já tive na vida. Só quero saber de usá-la. Tem aquele caimento “roubei a camisa do meu namorado”, sabe? Fiquei sonhando com outras cores mas… depois desse presente, já voltei ao meu detox de shopping!
3) Tenho a impressão de que nessa época do ano começam a lançar todos os melhores livros do ano. Estou curiosa para ler o novo do Emmanuel Carrère que sai mês que vem: V13: Crônica Judicial. O Quatro cinco um conta mais aqui:
O que teria levado Emmanuel Carrère, um dos mais importantes escritores da França, a querer cobrir o julgamento dos responsáveis pelos atentados de Paris em 2015? O mundo inteiro tinha ficado assombrado naquela terrível noite da sexta-feira, 13 de novembro, quando dezenas de jovens foram dizimados enquanto se divertiam num show no Bataclan, enquanto uma série de outros ataques aconteciam na capital francesa. Agora, o caso ia ser apreciado pela Justiça.
Os próprios editores do Nouvel Obs (antigo L’Obs) achavam que Carrère não teria a abnegação necessária para passar meses inteiros num tribunal de segurança máxima, ouvindo audiências cansativas e intermináveis. Mas foi o que aconteceu e que agora vem narrado com minúcias nesse V13, como ficou conhecido o processo do Vendredi 13. Emmanuel Carrère passou dez meses, de 2 de setembro de 2021 a 7 de julho de 2022, sentado sem nenhum conforto na sala de audiências, tomando notas em um caderno vermelho grosso. Para ter uma ordem de grandeza, o longo processo chegou a ter 542 volumes — uma pilha de mais de 2,5 metros.
4) Quando estamos fechados às ideias, o que ouvimos são críticas. Quando estamos abertos a críticas, o que recebemos são conselhos — Simon Sinek
5) Nesse conto de Jhumpa Lahiri, sobre um imigrante que se muda para os Estados Unidos em 1969 — junto com a chegada do homem à lua —, adorei a sequência em que o personagem reflete sobre sua condição. Ele se compara ao seu filho, que já nasceu nos EUA:
Sempre que ele fica desanimado, digo que, se eu consegui sobreviver em três continentes, não haverá obstáculo que ele não possa vencer. Enquanto os astronautas, heróis para sempre, passaram apenas algumas horas na Lua, eu permaneci neste novo mundo durante quase trinta anos. Eu sei que minha conquista é bastante comum. Não sou o único homem a buscar a sorte longe de casa e certamente não fui o primeiro. Ainda assim, há momentos em que fico perplexo com cada quilômetro que viajei, cada refeição que comi, cada pessoa que conheci, cada quarto em que dormi. Por mais comum que tudo pareça, há momentos em que isso tudo está além da minha imaginação.
Foto Nasa via CBS News
6) Todo dia é uma jornada, e a jornada é, em si, a nossa casa — Basho
Christina's World, 1948, de Andrew Wyeth
7) “Estabilidade me deixa mais inteligente”, me identifiquei com a frase da autora Ottessa Moshfegh. Segue aqui a íntegra da entrevista que ela deu uns anos atrás ao The Guardian.
Ando acompanhando tudo o que a Ottessa Moshfegh apronta, e acho que ela super parece irmã da Margherita Missoni haha :) Foto via The Guardian
8) Por falar nela, escutei seu livro My Year of Rest and Relaxation em áudio outro dia (descobri que há vários disponíveis — sem custo extra — para assinantes do Spotify Premium, inclusive o novo da Miranda July, All Fours). E adorei.
Também a ouvi lendo um conto de Sheila Heti. Num estilo Memórias Póstumas, a personagem principal sai do mundo dos mortos. A certa altura, ela constata:
Eu não suportava mais nenhum aspecto da vida. Principalmente aquele velho costume: a ideia de que você tem de viver uma vida melhor que a de todo mundo.
Outro texto que Ottessa lê no podcast Fictions da New Yorker é sobre dependentes químicos. Esse episódio é especialmente comovente, porque a autora perdeu um irmão, de overdose, aos 30 anos. Bem bonito o conto. Para quem tiver estômago, vale.
Mario Merz, Untitled (Igloo), 1989
9) Frase que abre o novo livro de Sally Rooney:
Mas você não está de luto agora?
(Mas você não está jogando xadrez agora?)
— Ludwig Wittgenstein
O NYTimes fará um podcast clube do livro falando sobre ele. Para quem estiver curioso, vale ler (ou ouvir) e depois correr pra discussão deles.
Foto via NYT
10) Hoje entreguei nossa playlist na mão de um amigo querido e inclassificável, Eduardo Nazarian — músico, ceramista, jiujitseiro, zen budista, libriano… Ele escolheu para sua seleção um tema divino, zen sambismo: “às vezes pela música, às vezes pela letra, às vezes pelos dois, essas canções se aproximam da ideia do zen budismo”. Entram na lista aqueles mantras que podemos ouvir eternamente, sem nos cansar. Desde que ele me mandou, não consegui escutar outra coisa. Obrigada, Dudu!
Como sempre, demais! Boa Bree
Este vídeo é delicioso e inspira a aspirar por uma velocidade da vida que nem sempre é possível. Na verdade, sinto-me sem graça para dizer “de nada, Gisela” quando só apenas retribuí com um singelo vídeo tudo o que semanalmente partilhas connosco aqui. Obrigada eu! ♥️