Still Life with Aubergines, 1911, Henri Matisse
1) Alguns anos depois do fim da Primeira Guerra Mundial, em 1920, o governo alemão construiu cerca de 10 mil moradias em conjuntos habitacionais em Frankfurt. Ali, aparecia um dos primeiros exemplos de arquitetura moderna — simples, industrial, padronizada. Um dos aspectos mais influentes desses projetos eram as micro-cozinhas, que ficaram conhecidas como Frankfurt Kitchen — “a cozinha moderna” pensada para as famílias nas quais a mulher também trabalhava fora da casa e tinha pouco tempo para cozinhar.
Outro dia, num episódio do podcast Betoneira, o convidado Denis Joelsons falou sobre Otl Aicher e seu livro “Cozinha para Cozinhar” — uma publicação que só existe em alemão e espanhol. Como estou mudando de casa — e meu marido ama cozinhar :) —, fui pesquisar.
O site publiarq descreve o livro assim — em tradução livre e editada:
Em sua pesquisa, Aicher procurou restaurantes onde se comia bem e pediu aos cozinheiros para que falassem sobre suas cozinhas. Durante a guerra, Aicher ficou levemente famoso como cozinheiro, já que entre suas obrigações de soldado preparava a comida dos colegas. Seu trabalho na empresa Max Braun o fez entrar em contato com questões relacionadas a equipamentos de cozinha, que também foram tema presente na Escola de Ulm, da qual ele é um dos fundadores.
O designer testemunhou discussões entre Gugelot e Erwin Braun sobre eletrodomésticos, assim como o nascimento das clássicas louças empilháveis de Nick Roericht. Entre outras coisas, e por conta da Bulthaup — principal empresa alemã dedicada à fabricação de cozinhas —, Aicher explorou as diversas tendências da época que se converteram na base deste livro. Mas onde ele mais aprendeu sobre cozinhas foi… cozinhando!
PS: foi Aicher quem desenhou o logotipo e os clássicos pictogramas das Olimpíadas de Munique de 1972 :)
2) Por falar em cozinhas — e casas — recebi da minha comadre uma fala da Paula Navone, do Otto Fish Studio:
Posso fazer uma casa muito rapidamente em qualquer lugar. Não sou sem raízes — mas tenho raízes curtas. Então coloco as raízes aqui e fico um pouco. Depois tiro e posso ir para outro lugar. A casa ideal é uma casa que tenha luz, luxo é liberdade, espaço — a possibilidade de escolher algo que não vale nada ou algo que tem um valor de troca altíssimo. Luxo é poder colocar essas duas coisas na mesma balança.
3) Outro dia, uma amiga me falou sobre a regra 7 x 7 x 7 para casais. Conhecem? Funciona assim:
A cada sete dias vocês marcam um date à noite; a cada sete semanas vocês dormem uma noite fora de casa (para quem tem filhos, principalmente); e a cada sete meses, vocês tiram férias românticas — só o casal.
Lembrando também da regra mais importante de todas: sempre quebre as regras :)
4) Pelo tipo de conteúdo que tem me interessado, acho que estou ficando velha hehe. No NYTimes do fim de semana, tinha uma matéria sobre como atingir a noite de sono perfeita e outras curiosidades dessa indústria multibilionária.
Vangloriar-se de dormir cedo virou um jeito de esnobar nas redes sociais tanto quanto documentar férias luxuosas. Hoje em dia, para os curiosos do sono, existem fitas bucais (destinadas a promover a respiração pelo nariz), expansores de narinas (que reduzem o ronco), fitas nasais (para abrir as passagens nasais) e tiras de mandíbula (que envolve a cabeça e mantém a boca bem fechada).
Há aromaterapia para travesseiro; spray de magnésio para os pés; um “coquetel sonolento” que mistura suco de cereja, refrigerante probiótico e magnésio em pó. Isso sem contar um ventilador especial que custa cerca de US$ 600, e os dispositivos para medir o sono e rastrear sua noite — alguns por quase US$ 1 mil. Tem também o despertador do “nascer do sol”, que acorda as pessoas seguindo seus ritmos circadianos naturais. E para os verdadeiros entusiastas, existe até um sistema de colchão que ajusta a temperatura, detecta o ronco e vibra na hora de acordar. Custa US$ 4000.
Tilda Swinton dormindo no MoMA
5) Adorei esse post do Nick Cave sobre a alegria:
Tenho uma vida plena. Uma vida privilegiada. Uma vida sem perigos. Mas às vezes as alegrias simples me escapam. A alegria nem sempre é um sentimento que nos é concedido gratuitamente; muitas vezes é algo que devemos buscar ativamente. De certa forma, a alegria é uma decisão, uma ação, até mesmo um método de ser praticado. É algo conquistado e que é realçado pelo que perdemos – pelo menos é o que parece. Minha pergunta é: onde ou como você encontra sua alegria?
6) Sou obcecada por listras. Em tudo. Sempre. (Sei que ninguém perguntou, mas na minha casa nova o sofá será listrado :). Em Tribeca, outro dia, vi uma mulher super estilosa — sua calça listrada me chamou a atenção. Até banquei a paparazzi.
Depois disso, a marca La Veste começou a me perseguir — o algoritmo sacou tudo. E, agora, acho que o mundo é feito de roupas listradas. Tendência boa! Por sorte, estou no detox de compras, então só vou curtir as imagens mesmo. Essa outra marca também está seguindo a #trend: Big Bud Press.
7) Esses dias lembrei de uma história: a mãe de um ex-namorado meu ganhou de aniversário uma receita árabe. Confesso que, a princípio, não entendi muito bem o presente. Ao abrir o envelope que recebeu da amiga e ver do que se tratava, ela chorou. Aquele gesto, fui aprender depois, era o mais generoso possível. Numa família libanesa, a receita — muitas vezes secreta! — passa de avós para mães/pais para netos e assim por diante.
Aquela receita era a maior demonstração possível de afeto — um jeito de dizer “você é como família para mim”. Para quem não conta com uma amiga assim, por sorte tem o Almanara. Meu restaurante favorito disparado — e que, agora, tem unidade nova no Rio de Janeiro ;) Das coisas que mais sinto saudade no Brasil com toda a certeza!
* conteúdo criado especialmente para meu lugar predileto de SP.
8) Trecho de “Love Letter”, de George Saunders, 2020.
Você está, na minha opinião, fazendo muito bem simplesmente por se levantar de manhã, sendo tão presente e gentil quanto possível, mantendo viva a sanidade no mundo, para que, algum dia, quando (se) isso passar, o país possa encontrar o seu caminho de volta à normalidade, com a sua ajuda e a ajuda de pessoas como você. Nisto você é, e eu sou, espero, como pessoas das cavernas, cultivando um pequeno vestígio remanescente de fogo durante um período escuro.
Lisa Yuskavage
9) “Ser um artista significa nunca desviar o olhar” –Akira Kurosawa
PS: outro dia ouvi uma professora de teatro dizendo aos atores “don’t try to make people love you, just let people love you”. Em tradução livre: “não tente fazer com que as pessoas te amem, apenas deixe que elas te amem”. Vale pra não atores também, né?
10) Uma playlist para reestabelecer a rotina depois das “férias” de verão:
Sempre quebre as regras! Strippes em
Tudo sempre
O Almanara também está abrindo em Ribeirão ♥️