Hottest Takes #74
Blusa divina e vintage. Roupas pré-amadas ficam ainda mais chiques por serem sustentáveis :)
PS: Fica em cartaz em SP até esse sábado 29/6 a exposição Regra-de-Três, na Galeria Estação, organizada por mim. Passem lá! Preview aqui.
1) Minha amiga Ciça me deu um livro de presente chamado O Perigo de Estar Lúcida, da escritora espanhola Rosa Montero. Estou guardando para ler na Bahia, mas logo que recebi, abri e li os dois primeiros capítulos. Gente, que escrita deliciosa! Foi díficil parar.
A publicação trata da fascinante relação entre criatividade e loucura — e da incidência de distúrbios psíquicos entre escritores em especial. Vou compartilhar alguns trechinhos aqui.
E essa capa perfeita da Vânia Mignone?
Já nas primeiras páginas, ela lista uma abundância de manias entre criadores":
(…) direi que Kafka, além de mastigar cada porção 32 vezes, fazia ginástica pelado com a janela aberta e um frio de rachar; Sócrates usava sempre a mesma roupa, andava descalço e dançava sozinho; Proust se enfiou na cama um dia e nunca mais saiu (assim como muitos outros, entre eles Valle-Inclán e o uruguaio Juan Carlos Onetti); Agatha Christie escrevia na banheira; Rousseau era masoquista e exibicionista; Freud tinha medo de trens; Hitchcock, de ovos; Napoleão, de gatos; e a jovem escritora colombiana Amalia Andrade, de quem obtive os três últimos exemplos de fobias, tinha medo na infância de que lhe crescessem árvores dentro do corpo por ter engolido uma semente (o que eu acho bem parecido com lamber cobre).
Rudyard Kipling só conseguia escrever com tinta bem preta, a ponto de o preto azulado já lhe parecer "uma aberração". Schiller punha maçãs estragadas na gaveta da sua mesa, pois para escrever precisava sentir o cheiro da podridão. Na velhice, Isak Dinesen comia tão somente ostras e uvas brancas com um pouco de aspargo; Stefan Zweig era um obsessivo colecionador de autógrafos e enviava três ou quatro cartas por dia a suas personalidades favoritas, pedindo uma assinatura... Para não falar de Dalí, que sempre foi o rei das extravagâncias.
Quando li que Agatha Cristie escrevia na banheira, pensei nessa pintura do Bonnard :)
2) Estudei em colégio espanhol dos 4 aos 14 anos. Por essa e por outras, adorei o momento em que a autora conta que procrastinação em castelhano é transmañanar. Algo que poderia ser literalmente traduzido como “passar além da manhã". Uma palavra, um mundo.
3) São tantas frases maravilhosas que ela cita… Gostei dessa ideia do escritor colombiano Héctor Abad:
Minha fantasia é de que vivo duas vidas: essa que estou vivendo, a quente, e outra que vou imaginando, que não é passado nem futuro, mas um presente distinto. A vida que escrevo.
Muito bom pensar que a vida que vivemos é quente e que a que imaginamos, mais atemporal.
4) Essa delícia que é ler palavras bem escolhidas me lembra um de meus contos favoritos, de Machado de Assis. Nele, o autor fala de substantivos e adjetivos de forma erótica — e toca, também, no processo criativo dos escritores. Como se eles precisassem se encontrar para tudo, se encaixar. A leitura é gostosoa e curtinha. Um presente para as férias de julho <3 Leia aqui.
Não lhe lembra mais nem Sílvio nem Sílvia. Mas Sílvio e Sílvia é que se lembram de si. Enquanto o cônego cuida em cousas estranhas, eles prosseguem em busca um do outro, sem que ele saiba nem suspeite nada. Agora, porém, o caminho é escuro. Passamos da consciência para a inconsciência onde se faz a elaboração confusa das idéias, onde as reminiscências dormem ou cochilam.
Aqui pulula a vida sem formas, os germens e os detritos, os rudimentos e os sedimentos; é o desvão imenso do espírito. Aqui caíram eles, à procura um do outro, chamando e suspirando. Dê-me a leitora a mão, agarre-se o leitor a mim, e escorreguemos também. Vasto mundo incógnito. Sílvio e Sílvia rompem por entre embriões e ruínas. Grupos de idéias, deduzindo-se à maneira de silogismos, perdem-se no tumulto de reminiscências da infância e do seminário. Outras idéias, grávidas de idéias, arrastam-se pesadamente, amparadas por outras idéias virgens. Cousas e homens amalgamam-se (…)
Procuram-se e acham-se. Enfim, Sílvio achou Sílvia. Viram-se, caíram nos braços um do outro, ofegantes de canseira, mas remidos com a paga. Unem-se, entrelaçam os braços, e regressam palpitando da inconsciência para a consciência.
5) E por falar em palavras bem escolhidas, meu amigo querido e comentarista sabido, Guga Chacra, vai dar um curso sobre Jornalismo Internacional: O Conflito entre Israel X Palestina. Tem online e presencial, em SP e no Rio, a partir de 27/6. Para se inscrever, mande WhatsApp para (21) 97552-9507. Quem anima?
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