Rosie Harbottle
1) Quando o Whitney Museum se mudou de Uptown para Downtown, tive a sorte de ouvir Renzo Piano — e seu irresistível sotaque italiano — na coletiva de imprensa. Nunca vou me esquecer de escutar o arquiteto olhando em volta e dizendo: “Americans call this looby, I call it PIAZZA!” [Americanos chamam isso de lobby, eu chamo de piazza!]
Nessa entrevista divina ao Louisiana Channel, o vencedor do Pritzker dá uma aula! Em seu currículo, há vários outros museus além do Whitney, como o Pompidou em Paris, o Art Institute em Chicago e o prédio anexo da Morgan Library em NY, só para citar alguns.
Piano compara o mar Mediterrâneo a uma sopa, “um consomê de culturas diferentes”. E considera viajar extremamente importante, por permitir um afastamento daquilo que estamos fazendo.
Enfatiza que “os jovens deveriam viajar. (…) Se você não for embora, se não viajar, não entende a sorte que tem de ter nascido onde nasceu. Além disso, é importante perceber que a diversidade é um valor, não um problema, é o que nos faz crescer e aprender.
No minuto 29 do vídeo abaixo, ele descreve também a “versátil rotina” de um arquiteto:
Às 9h você é um poeta, às 10h, precisa ser um construtor, às 11h você vira um animal social, depois, é necessário pensar sobre orçamento e em seguida ativar o psicólogo que mora dentro de você para administrar crises. Ao lidar com o time de jovens, às vezes é preciso atuar também como professor, e só depois, voltar a ser poeta.
2) Outro dia Olivia Byington relembrou essa história maravilhosa nas redes:
Perguntaram ao músico Jascha Heifetz nos arredores da rua 57:
— “Como faz para chegar no Carnegie Hall?”
E ele respondeu:
— “Practice, practice, practice” [Pratique, pratique, pratique].
3) El Greco: minha mais nova obsessão. Taí uma das graças de viver indo a museus — a gente nunca, nunca para de aprender. Há uma sala (galeria 619) no Metropolitan Museum que apresenta algumas das pinturas mais importantes de Doménikos Theotokópoulos, o pintor grego (daí o apelido, El Greco), feitas no fim do século 16, ao lado de telas de mestres modernistas como Picasso e Cézanne. Foram preciso 300 anos para que seu talento fosse devidamente reconhecido, e ele se tornasse o que chamam aqui de um “artist’s artist” — um artista admirado principalmente por outros artistas.
O frescor, a atmosfera e a sensação de que a pintura está toda num plano 2D, quase indo em direção ao espectador, são algumas das graças em ver as telas dele reunidas com os seus seguidores.
View of Toledo El Greco (Domenikos Theotokopoulos) ca. 1599–1600
Rocks at Fontainebleauh Paul Cézanne 1890s
4) Em 2025, a cidade de Nova York celebra seu 400º aniversário. A cidade terá a oportunidade de realizar uma festa histórica. O professor de história da Columbia, Kenneth T. Jackson, escreveu um editorial para o NYTimes onde diz:
Em vez de planejarmos uma grande comemoração, podemos estar diante de uma oportunidade perdida. Em seu discurso sobre o estado da cidade em janeiro, o prefeito Eric Adams disse que sua administração começaria a planejar o que ele chamou de “um marco na história”. Mas não ouvimos quase nada publicamente desde então, e faltam apenas oito meses para 2025. Esta deve ser uma grande prioridade.
Apesar da fama pós-pandemia de ter ficado mais perigosa e a eterna reputação de caótica, NY é uma das cidades mais seguras do país. Assim como o professor Jackson, estou louca pra ver as celebrações todas — nos museus, nas ruas, na programação. E torcendo, claro, para que não seja uma oportunidade perdida de honrar uma das cidades mais queridas do mundo!
5) Sempre falo da Síndrome de Stendhal — já que o assunto está diretamente ligado ao meu trabalho de guia de galerias e museus. Por essa e por outras, amei o post que a fez sobre o tema. Que honra ter sido citada num texto tão inspirado, falando da experiência de ver arte. Também achei muito boa a conexão que ela fez com o livro da Donna Tartt (o livro conta a história de um atentado terrorista que acontece num museu de NY e a personagem principal é a pintura The Goldfinch [O Pintassilgo] do Fabritius):
Tive a sorte de ver essa pintura ao vivo, mas não foi no Met, onde a cena do livro se passa, foi na Frick Collection em 2013 :)
6) Por falar em exposições icônicas de NY, finalmente fui ver Sleeping Beauties — a mostra do Costume Institute, cujos fundos vêm da festa famosa organizada por Anna Wintour, o MetGala. Na edição desse ano, foram arrecadados US$ 26 milhões.
Ao chegar ao museu, há um QR code para a fila virtual — quando fui, a espera era de 145 minutos! Por ser membro do museu — a anuidade custa US$ 110 e tem infinitas vantagens para quem vai muito —, minha fila foi só de 2 minutos (fica a dica). A expo é lotada e o tempo todo parece que você está numa fila em movimento — confesso que achei a mais claustrofóbica de todas as que já visitei no Met. Vibe Disney.
Dito isto, que coisa linda! Com looks, acessórios, e até experiências sensoriais inspiradas na natureza, Sleeping Beauties é pura beleza. Sempre fico passada com os modelitos criados por Schiaparelli, Alexander McQueen, Dior, Dries van Noten e Jonathan Anderson para Loewe (um dos patrocinadores oficiais do evento com direito a lojinha exclusiva na saída). Cada ala é dedicada a um tema, como papoulas, cobras, insetos, rosas vermelhas, flores de Van Gogh, jardins, conchas, sereias, e até vênus. Vale muito a pena ver mais fotos para quem curte moda. Fica em cartaz até 2 de setembro.
Apesar de não ser florido, fiquei louca por esse look do Dries van Noten — pensei em bicho da seda, teia de aranha, pólen… e essas cores ultra férteis e primaveris.
7) Estou escutando a segunda temporada de Wiser Than Me, o premiado podcast de Julia Louis-Dreyfus. Curti a conversa-mercúrio-retrógrado dela com Patti Smith e também o bate-papo com a tenista que fez história, Billie Jean King. Uma das frases que ela falou ficou ecoando em minha cabeça:
Pressão é privilégio.
[Pressure is a privilege].
8) Adoro esse poder que uma frase tem de fazer a gente pensar. E também fui garfada por esse aforismo de Joan Didion recentemente:
Você tem de escolher os lugares dos quais você não vai sair.
[You have to pick the places you don't walk away from].
Jennifer Bartlett
9) Já citei aqui a frase de Ítalo Calvino que diz que “um clássico é um livro que nunca acabou de dizer aquilo que tem para dizer”. Por isso, adorei reler, num curso de literatura que estou fazendo, o poema de Luís de Camões, de 1843. Clichê tem motivo pra virar clichê, né?:
Amor é fogo que arde sem se ver;
É ferida que dói, e não se sente;
É um contentamento descontente;
É dor que desatina sem doer.
É um não querer mais que bem querer;
É um andar solitário entre a gente;
É nunca contentar-se de contente;
É um cuidar que se ganha em se perder.
É querer estar preso por vontade;
É servir a quem vence, o vencedor;
É ter com quem nos mata, lealdade.
Mas como causar pode seu favor
Nos corações humanos amizade,
Se tão contrário a si é o mesmo Amor?
Hal Fischer’s Blue Handkerchief, Red Handkerchief 🤧
10) Por falar em amor, sempre fui apaixonada pelo mês de maio. Fiz uma playlist de músicas que amo ouvir e cantar (hahaha), bem aleatória, de tudo que tem tocado aqui, entre vontades e Shazams :) A primeira faixa, da Dua Lipa, ouvi numa competição de natação em que meu filho particpou. Foi mega animado — os pais, irmãos e avós dos nadadores todos estavam dançando na arquibancada!
Gostei demais da entrevista com o arquiteto italiano, que inspirador. Amo El Greco também!!! Que cinzas que ele cria dentro das cores
Hottest Takes é tão chique!